Estudos recentes identificaram lacunas e disparidades no acesso aos benefícios trabalhistas relativos à saúde, bem-estar, prosperidade e proteção financeira para grupos minoritários, como as mulheres trabalhadoras, mostrando que as políticas de proteção aos direitos trabalhistas na América Latina precisam ser implementadas para de fato beneficiarem as mulheres, que são as mais atingidas pela pandemia do Covid-19.
Estima-se que globalmente a participação das mulheres na força de trabalho diminuiu de 7% a 10%, de acordo com o documento Global Risk Report 2021, divulgado em janeiro deste ano pelo Fórum Econômico Mundial e a Marsh McLennan. No Brasil, mais de 7 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho, de acordo com dados Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (IBGE, 2020). Outro estudo feito em 112 países aponta que 70% das mulheres trabalhadoras consideram que a pandemia retardou o desenvolvimento de suas carreiras, e 51% das mulheres jovens acreditam que o desenvolvimento de sua educação foi atrasado pela crise da Covid-19, como constata a Pesquisa Nacional de Ocupação e Emprego (“ENOE” Cifreas durante el tercer trimestre 2020 Instituto Nacional de Estadística y Geografía Inegi).
A pandemia exacerbou disparidades existentes como o acesso a cuidados preventivos e expôs as mulheres a uma maior carga de trabalho doméstico não remunerado, que na América Latina corresponde a uma média de 4 horas por dia, enquanto nos homens é de 1,7 horas, segundo relatório da Women at Work, Trends, de 2016. No Brasil, os homens gastam em média 11 horas semanais com trabalho doméstico, jás as mulheres gastam 21,4 horas, segundo dados do estudo Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil (IBGE, 2020).
As mulheres trabalhadoras dos países capitalistas centrais, como Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental, foram mais favorecidas no cenário de benefícios inclusivos. No entanto, na América Latina ainda existem lacunas importantes na prevenção, nos cuidados de maternidade e medicina reprodutiva, bem como na saúde mental, considerando que as mulheres têm 2,5 vezes mais probabilidade de sofrer de problemas de saúde mental em comparação aos homens. As mulheres convivem diariamente com estresse prolongado, assédio e discriminação, violência doméstica, que dispararam após Covid-19. Pelo menos 35% das mulheres heterossexuais sofreram violência física e sexual durante a atual pandemia, enquanto lésbicas e bissexuais 44% e 61%, respectivamente. As mulheres também são mais propensas a doenças crônicas, como a fibromialgia, e praticamente 80% dos casos de doenças autoimunes ocorrem em mulheres, segundo levantamento feito por Antonietta Medeiros, diretora de Gestão de Saúde e Qualidade de Vida da Mercer Marsh Benefícios.
Os estudos apresentados sugerem a implementação de benefícios e medidas que atendam às necessidades das mulheres trabalhadoras, tais como: horário flexível; licença maternidade estendida; programas de amamentação e retorno ao trabalho; creches; acesso a cuidados preventivos e novas tecnologias com testes genéticos; saúde mental; atenção a doenças crônicas e cuidados com a menopausa; apoio integral na saúde sexual e reprodutiva; programas e recursos para a prevenção e proteção em caso de violência de gênero.
Contudo, deve-se ponderar que esses benefícios são importantes, uma vez que amenizam os efeitos das desigualdades e da opressão sofrida pelas mulheres, entretanto não são políticas assistencialistas e inclusivas que irão resolver a causa do problema das mulheres trabalhadoras. O desemprego das mulheres brasileiras é 37% maior que o dos homens, e mesmo tendo instrução superior, recebem 22% menos que os homens e tem menos acesso aos cargos de chefia. No capitalismo as mulheres continuarão recebendo menos, e continuarão sendo escravas do lar. Nesse sentido, as mulheres precisam se organizar para lutar contra o sistema capitalista e contra o regime fascista que assola as mulheres e as classes oprimidas.