Da redação – A crise do novo coronavírus, que se transformou em pandemia e está matando milhares de pessoas na Europa e Ásia, vai se transformando em uma crise econômica que ameaça arrastar à miséria uma parte da sociedade. Por isso, em vários países os governos têm procurado fórmulas para garantir a renda dos assalariados e também dos desempregados. Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro decretou que está proibido demitir trabalhadores até 31 de dezembro e também proibiu cobrar juros, aluguéis e financiamentos nos próximos seis meses. Além disso, na Venezuela as taxas de água, luz e gás estão suspensas por tempo indeterminado.
No Brasil, nada disso foi feito, a não ser por iniciativa de algumas prefeituras e poucos governos estaduais, que estão distribuindo cestas básicas para famílias de desempregados ou pacotes de alimentos para estudantes de baixa renda, a fim de conter a insatisfação popular. Já o governo federal tem somente agido em favor dos capitalistas e banqueiros. Em vez de apoiar o SUS, o Ministério da Saúde anunciou que irá liberar para as Empresas de Planos de Saúde 10 bilhões de reais por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
O que temos visto é o aumento do desemprego provocado pelo fechamento dos pequenos comércios de rua e pequenas e médias empresas de vários setores industriais (a maioria doméstica e terceirizada). Nos serviços terceirizados, os trabalhadores em vez de serem colocados em quarentena em casa com licença paga, estão sendo demitidos sumariamente. Mesmo as grandes empresas já ameaçam a demissão em massa. Os ambulantes e trabalhadores informais, com a paralisação das atividades urbanas, viram cessar completamente suas fontes de renda. A miséria e a fome ameaçam todos os trabalhadores, mas já atingem os mais pobres.
Risco de convulsão social
O Data Favela, criado pelo Instituto Locomotiva em parceria com a Central Única das Favelas (Cufa), realizou pesquisa com mais de mil moradores de 262 comunidades e verificou que desde o início da pandemia, “70% das famílias que moram em favelas tiveram a renda diminuída”, mas uma parcela ainda maior (84%) tem expectativa de redução de sua renda (Revista Exame, 25/3/2020).
“Por mais que isso soe alarmista, esse quadro pode indicar uma situação de convulsão social num futuro próximo”, afirma Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva.
Dois em cada três moradores de favelas já não conseguem pagar suas contas e 86% afirma que terá dificuldade em comprar comida. Isso quer dizer, vai aumentar a fome.
O impacto da crise nas comunidades pobres será um desastre de repercussões trágicas. Por isso, a falta de mobilização e a falta de uma proposta clara de superação da crise levará necessariamente ao desespero e a mais fome.
Nessa hora, mais do que tudo, é preciso agir. A solução não cairá do céu, virá do trabalho, da mobilização e da ação das pessoas. A experiência histórica da luta dos trabalhadores nos traz várias formas de organizar e mobilizar para isso. De qualquer modo, o que se precisa é começar a organizar conselhos populares por rua, comunidade, bairro e ir construindo um novo poder efetivo, que venha da base e que, por isso mesmo, saiba colocar as demandas reais dos trabalhadores e de suas famílias, por alimentos, saúde, moradia, renda e trabalho.
Esses conselhos precisam dar voz a todos os trabalhadores e organizá-los para obter as soluções para a crise grave e concreta que as pessoas estão enfrentando principalmente nas periferias das cidades, para impor suas demandas e derrubar o governo Bolsonaro.