Passados 180 dias do assassinato da vereadora do PSOL, Marielle Franco, e de seu motorista, Anderson Gomes, as investigações da polícia civil do Rio de Janeiro, responsável pelo caso, encontram-se praticamente na estaca zero.
Marielle foi assassinada em uma emboscada no bairro do Estácio na zona central do Rio, por volta das 21 horas do dia 14 de março, quando retornava de um evento político. Na mesma emboscada foi morto o seu motorista, Anderson Gomes, e uma terceira pessoa, assessora da vereadora, ficou ferida.
Em seguida a execução, o governo federal, estadual e municipal, além do interventor militar, general Braga Netto e o secretário de segurança, Richard Nunes, apressaram-se em condenar o crime e a prometer todo empenho para a solução imediata do caso.
Nos dias seguintes começaram a vir à tona várias denúncias do envolvimento de grupos de extermínio compostos por policiais e ex-policiais. Também foi comprovado que as balas que atingiram a vereadora e seu motorista vinham de armas de uso restrito das Forças Armadas.
Nunca é demais relembrar que Marielle vinha denunciando sistematicamente a escalada da violência de policiais militares nas periferias do Rio de Janeiro, principalmente após a intervenção militar, além de ter assumido, duas semanas antes do seu assassinato, a relatoria da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para acompanhar a atuação das tropas na intervenção militar no Estado.
Uma de suas últimas denúncias foi justamente contra policias do 41º BPM (Batalhão da Polícia Militar) de Acari (subúrbio do Rio). Em uma postagem em sua página no facebook, às vésperas do atentado, escreveu: “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana, dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”.
Os fatos não dão margem a dúvidas de que se tratou de um crime político. Crime que está diretamente associado a escalada da violência na cidade como produto direto da intervenção militar. Marielle foi “calada”, porque era uma pedra no calcanhar do golpe de Estado em curso no país e que tem a sua versão mais acabada no Estado do Rio.
Não é por outro motivo que as chacinas na cidade mais que dobraram, após a chegada das tropas do Exército. Em um estado ditatorial, o aparato repressivo legal e ilegal se sentem absolutamente à vontade para promover o extermínio da população pobre e negra da periferia e de todos aqueles, como Marielle, que não se silenciam diante das atrocidades da ditadura imposta pelo golpe.
Não é preciso ir muito longe para identificar os verdadeiros responsáveis pelo assassinato da vereadora carioca. O golpe de Estado escancarou todas as portas para a proliferação do aparato repressivo estatal, que toma conta do Rio de Janeiro.
É justamente por isso, que a solução desse crime monstruoso passa necessariamente pela luta por derrotar o golpe de Estado, pelo fim da intervenção militar no Rio de Janeiro e pela dissolução da PM assassina de trabalhadores.