A direita foge de debates, mas gosta de levantar “discussões” estapafúrdias para animar a própria torcida. É mais fácil do que defender o programa dos golpistas no Brasil, que consiste em roubar o povo a céu aberto e esfolar os trabalhadores (veja-se o roubo da Previdência). Entre uma defesa do terraplanismo e outra do “liberalismo” (ideologia caduca correspondente a uma etapa anterior do capitalismo), a última da direita é afirmar que o guerrilheiro Carlos Marighella, assassinado covardemente pelos vermes da ditadura militar, não seria negro.
Não se trata de um problema de ilusão de ótica. As cores se influenciam mutuamente, sobre diferentes panos de fundo, a percepção de uma determinada cor pode variar. Mas o fenômeno que distorce a percepção coxinha da realidade é de outra natureza: o pano de fundo nesse caso é ideológico e político.
A questão foi levantada por causa do filme Marighella, dirigido por Wagner Moura, que teve sua estreia mundial, sob aplausos do público, no último dia 15, durante o Festival de Berlim. Para o papel de Marighella foi escolhido o ator e cantor Seu Jorge. Os terraplanistas não gostaram da escolha. Segundo eles, Marighella não era negro. A escolha de Seu Jorge para o papel, portanto, seria uma espécie de “manipulação”. Um “arjumento” utilizado por coxinhas é o de que na certidão de nascimento de Marighella consta que sua cor seria “branca”. Como se um pedaço de papel criasse a realidade.
O daltonismo voluntário tem razão de ser. Grande parte da população poderá se reconhecer no protagonista do filme. Do ponto de vista da direita, seria melhor evitar esse reconhecimento com uma personagem histórica que se levantou contra a tirania e não aceitou ser governado por canalhas vendilhões da pátria. É um problema que, no final das contas, a direita tem com toda a arte em geral, que de uma forma ou de outra frequentemente expressa inconformismo com a decadente sociedade capitalista, em crise terminal.
Diante dessas surpreendentes manifestações da direita sobre a cor de Marighella, resolvemos aceitar aqui provisoriamente a tese de que Marighella era branco para fins de argumentação. Marighella era branco. E vamos comprovar essa tese com imagens. (A quarta e a quinta imagem são postagens do biógrafo de Marighella, Mário Magalhães, no Twitter).
- De qual cidade da Islândia terá vindo Marighella?
- Olha, um viking!
- Wie geht’s?
- Apesar de branco, Marighella sofreu ataques racistas dos coxinhas da época (1)
Inventam agora que Carlos Marighella era, literalmente, "branco". Tal embranquecimento eugenista é fraude. No livro "A marcha vermelha", de 1948, Davino Francisco dos Santos se refere a Marighella, em tom racista, como "negroide". Conto mais na biografia:https://t.co/TozTiCQczh pic.twitter.com/72Kn3pqtm7
— Mário Magalhães (@mariomagalhaes_) February 19, 2019
- Apesar de branco, Marighella sofreu ataques racistas dos coxinhas da época (2)
Racismo (1): inimigos de Marighella sabiam que ele não era branco. Em 1947, o deputado Marighella criticou colega que levara um carro (a "Baronesa") da Câmara para a Bahia. Altamirando Requião reagiu: "Não permito que elementos de cor, como V. Ex.ª, se intrometam no meu discurso" pic.twitter.com/RFiuACU7Cx
— Mário Magalhães (@mariomagalhaes_) February 18, 2019
6. A mãe de Marighella, Maria Rita