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5 Generais que vão integrar o governo de Jair Bolsonaro: golpistas aumentam a repressão

“Em 1948, nós plantamos carvalhos. Não plantamos couve. A couve floresce rapidamente, mas uma só vez. Os carvalhos demoram, mas são sólidos. Quando chegou a hora, nós tínhamos os homens, as ideias e os meios”
(Marechal Cordeiro de Farias[1])

 

Que há de comum entre os generais que vão compor o desgoverno Bolsonaro?

O General Heleno é o mais velho do grupo (71 anos), mas os demais têm idade similar (entre 64 e 66 anos), e sua formação principal foi realizada na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), na década de 1970 – mesmo período em que Jair Bolsonaro passou pela Academia. Mas as afinidades e relações vão além disso.

 

A DOUTRINA DE SEGURANÇA NACIONAL

 

Todos, como era de se esperar, também passaram pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), e seguiram o Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército. Atente-se para a relação de longa data entre a ECEME (assim como a Escola Superior de Guerra) com a Doutrina de Segurança Nacional importada dos Estados Unidos e que tinha como seu principal ‘tradutor’ o General Golbery do Couto e Silva[2].

É importante esclarecer que com o governo do presidente norte-americano Harry S. Truman (1884-1972), e seus famosos ‘quatro pontos’, já em 1947, o que ficou conhecido como Doutrina Truman teve como uma de suas primeiras medidas, para a adesão e manutenção dos países latino-americanos no ‘bloco capitalista’, a criação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). O Tratado estabelecia que um ataque armado, por parte de qualquer Estado, contra um outro americano, seria considerado como um ataque contra todos os eles e, assim, cada país estaria comprometido a fazer frente ao ataque.

Apesar de alguns protestos, o Sistema Militar Interamericano estava iniciado. Isso também foi a senha para que um conjunto de acordos bilaterais fossem firmados, sendo os primeiros dedicados ao estabelecimento de missões de assessoria militar.

Esses acordos começaram a ser aplicados a partir de 1952, por meio da Lei de Segurança Mútua. Os laços de dependência entre os exércitos latino-americanos e o Pentágono estava firmado definitivamente, de forma que a defesa nacional dos Estados Unidos para os países latino-americanos foi expandida.

Ao longo da década de 1950, estavam assentadas as bases que possibilitariam a disseminação da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), elaborada pelo Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, que foi difundida por meio das escolas militares para toda América Latina. As ditaduras que se estabeleceram no Cone Sul tiveram como sustentação ideológica os preceitos dessa doutrina. Lembrando que a Escola Superior de Guerra foi fundada em 1949, completamente dominada pela DSN. A ECEME, muito mais antiga (fundada em 1905), de toda forma, não escapou da influencia da Doutrina de Segurança Nacional e, muito menos, do contato direto com os norte-americanos[3].

 

`MISSÕES` FORA DO BRASIL

Os generais que assumirão importantes postos no governo golpista, desta vez com um ex-capitão fazendo as vezes de Presidente da República, têm experiência em missões fora do Brasil, três deles[4] participaram da Missão de Paz (ONU) no Haiti. Vamos aos nomes:

O General Juarez Aparecido de Paula Cunha (08/06/1953, Dracena/SP), foi Diretor da Junta Interamericana de Defesa, em Washington/EUA.

 

 

O General Antonio Hamilton Martins Mourão (15/08/1953, Porto Alegre/RS) foi Observador Militar das Nações Unidas em El Salvador, bem como Adido Militar junto à Embaixada do Brasil no Suriname e na Venezuela. Além disso tem em seu currículo um Curso Avançado de Blindados, na Escola de Blindados do Exército Norte-Americano, em Fort Knox.

 

O General Augusto Heleno Ribeiro Pereira (29/10/1947, Curitiba/PR), além da Missão de Paz no Haiti, foi adido militar da Embaixada do Brasil em Paris e em Bruxelas.

 

 

O General Carlos Alberto dos Santos Cruz (01/06/1952, Rio Grande/RS) foi adido militar junto à Embaixada do Brasil em Moscou/RU, foi comandante da Missão de Paz na República do Congo.

 

 

O General Fernando Azevedo e Silva (04/02/1954, Rio de Janeiro/RJ), com menos experiência fora do país, em compensação tem maior experiência no campo político. Foi Ajudante de Ordens de Fernando Collor de Mello, atuou dentro do Congresso Nacional como porta-voz do Exército, atuou no Ministério da Defesa e foi Chefe do Estado-Maior do Exército antes de ir para a Reserva.

 

 

COMANDANTES E TEIAS DE RELAÇÃO

O que talvez tenha passado despercebido é que todos os generais aqui analisados foram responsáveis por quatro dos oito comandos Militares. General Heleno foi Comandante Militar da Amazônia, com  com sede na cidade de Manaus e jurisdição sobre os territórios da 12ª Região Militar;  General Mourão foi Comandante Militar do Sul, com sede em Porto Alegre e sobre os territórios das 3ª e 5ª Regiões Militares; General Fernando Azevedo e Silva foi Comandante Militar do Leste, com sede na cidade do Rio de Janeiro, e jurisdição sobre os territórios das 1ª e 4ª Regiões Militares; General  Juarez Aparecido foi Comandante Militar do Oeste, que tem sede em Campo Grande/MS e jurisdição sobre o território da 9ª Região Militar. O General Santos Cruz, embora não tenha chegado a ser alçado à condição de comandante militar, foi comandante de batalhões de infantaria (Cristalina-GO) e de Brigada de Infantaria (Cuiabá/MT), além de Comandante da 2ª Divisão de Exercito e subcomandante de Operações Terrestres.

Ou seja, além de terem se formado nas mesmas escolas, sob o mesmo tipo de visão sobre o Brasil, e de relações muito próximas com os Estados Unidos da América, eles detém uma ampla rede de relações dentro do Exército que abrange a maior parte do país, de norte a Sul, passando pelo Centro-Oeste e pelo Sudeste.

 

MILITARES NO PODER, MAIS REPRESSÃO A CAMINHO

O desgoverno de Michel Temer foi um fiasco no que diz respeito a alcançar um mínimo aprovação popular, embora tenha sido um sucesso quanto ao desmonte das políticas sociais e de entrega do patrimônio nacional ao capital internacional. De toda sorte, sabemos que quem comanda o governo são os militares, tendo à frente o General Sérgio Westphalen Etchegoyen (01/02/1952).

Como os demais generais que comporão o novo governo também passou pela Aman, também na década de 1970, foi oficial do Estado-Maior da Missão de Verificação das Nações Unidas em El Salvador; chefe da Comissão do Exército Brasileiro em Washington, Estados Unidos, comandou a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; Chefe do Núcleo de Implantação da Estratégia Nacional de Defesa, e Chefe do Estado Maior do Exército.

Desde maio de 2016, quando Temer assumiu como interino durante afastamento da Presidenta Dilma Rousseff, Etchegoyen, filho e neto de militares, golpistas e apoiadores da Ditadura Militar, enquanto Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, é o presidente de fato do país.

Vem das mãos de Etchegoyen as ações que garantem que os militares mantenham em funcionamento, e sob seu comando, os serviços de inteligência e as estratégias de monitorar e conter os movimentos sociais, sindicatos e ativistas brasileiros.

O governo Bolsonaro é continuação do desgoverno Temer, os militares têm um papel muito particular de coordenar o aumento da repressão, principalmente porque o regime golpista, como sinalizamos acima, fracassou em muitos sentidos, levando-o a uma crise incontornável.

Dificilmente haverá retomada do crescimento do curto prazo, os níveis de desemprego não vão melhorar, a pobreza tende a aumentar, a fome está no horizonte, a precarização do trabalho e a retirada de direitos inevitavelmente fará com que os trabalhadores se mobilizem, a violência tende a aumentar e os níveis de confiança da população demorarão a retornar aos dos anos do governo Lula, os melhores desde a abertura política.

Então, não nos enganemos, os generais não estão aí por acaso. A repressão tende a alcançar todos os que se oponham à ‘nova’ ordem. Sem mobilização e resistência, ela pode durar muito.


NOTAS:

[1] Entrevista em 16/01/1976. Em DREIFUSS, René Armand. A Conquista do Estad. Petropólis: Editora Vozes, 1981, p. 105.

[2] Não é coincidência que tenha estagiado, em 1944, na escola militar Fort Leavenworth War School, nos EUA, que ainda hoje mantém intercambio com o Exército Brasileiro.

[3] A série de Palestras Marechal Mascarenhas de Morais/General Mark Clark ocorre desde pelo menos 2013, com intercambio entre Brasil e EUA. Em 17 de setembro, o Comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), General de Brigada Walter Nilton Pina Stoffel, proferiu palestra a oficiais-alunos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos da América (Fort Leavenworth/Kansas). Em 22 de outubro, teve inicio mais um intercâmbio escolar entre a ECEME e o Command and General Staff College (CGSC), do Exército norte-americano.

“A atividade conta com 2 instrutores e 4 oficiais alunos do 2° ano do Curso de Altos Estudos Militares (CAEM) e permite grande troca de informações doutrinárias, táticas e de técnicas de ensino. Os alunos do Exército Brasileiro foram inseridos em Estados-maiores do CGSC, participando de instruções relativas à tática de Brigada, logística e liderança. O intercâmbio se encerra, nos EUA, no dia 26 de outubro, prosseguindo no início de novembro com a vinda de oficiais americanos à ECEME.”  (site do Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO)

[4] Mourão, Heleno e Azevedo e Silva

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