A 43ª Universidade de Férias do PCO segue a todo o vapor, trazendo à militância da esquerda brasileira todas as informações necessárias para reconhecer e combater o fascismo, através de suas manifestações concretas.
Seguindo o estudo do fascismo na Itália, passamos a ver a burguesia construindo meticulosamente as milícias fascistas, cuja base serão as forças armadas e a polícia italiana. Uma vez em atividade, estas hordas fascistas trarão o terror ao povo italiano, através das “ações de castigo”. Mas haverá real resistência: entram em cena os Arditi del Popolo.
Mas antes de entrar em combate direto com o movimento operário, a burguesia irá reorganizar o exército italiano.
Nos planos da burguesia, os soldados devem manter-se nas Forças Armadas por períodos curtos e deverão ser recrutados, não voluntários. Já os oficiais, serão mantidos por longos períodos e deverão ser muito bem pagos. O objetivo é criar obstáculos para que a classe operária possa conquistar soldados para a sua luta, como já havia ocorrido na Rússia e na própria Itália. A bem dizer, trata-se de formar um exército de mercenários por um lado (oficiais) e de jovens inexperientes por outro (soldados).
Mas só um exército mercenário não basta, é preciso construir uma força nova, aparentemente independente das forças repressivas estatais: as milícias. A ordem é criar esquadrões com os mais capazes aliados da burguesia, “idealistas” da direita, formada “pelos mais fortes”, capazes de ações violentas e políticas. Incluindo as “ações de castigo”.
Evidentemente, estas milícias serão diretamente dirigidas por membros do exército, tanto na ativa como reformados, muito bem pagos para esta tarefa, e utilizarão táticas militares de guerrilha para lançar o terror sobre a classe operária italiana.
E assim é feito.
Organizadas pelas forças repressivas do Estado Italiano, com muito dinheiro investido pela burguesia, são formadas as milícias com a falsa aparência de serem manifestações espontâneas de setores da população italiana.
Utilizando-se de estratégias típicas de guerrilha, iniciam suas ações em locais com pouca ou nenhuma capacidade de defesa, distantes das grandes concentrações operárias, como a do Vale do Rio Pó, no centro da Itália. São ações de extrema violência contra o povo, com muitas mortes, centenas de feridos, intimidações brutais contra lideranças locais, principalmente sindicalistas, prefeitos socialistas e demais lideranças populares. Chegam até mesmo a coagir autoridades eleitas a abandonarem seus mandatos, sob pena de morte não só do mandatário como de toda a sua família.
Os fascistas seguiam montados em caminhões e atacam a todos que não tirem os chapéus à milícia, ou que usem qualquer roupa ou adereço vermelho. Atacavam com bastões, chamado de manganelo, pois a ideia é que o espancamento é ainda mais assustador e humilhante do que um tiro. Mas também usam punhais, revólveres, fuzis e metralhadoras, para o caso de haver resistência.
Nos sindicatos, mandam todos saírem, através de um corredor polonês, e queimam tudo. Depois, instituem sindicatos fascistas que permitem trabalhar somente a quem se submete às ordens fascistas, e nas suas condições. É uma espécie de trabalho escravo instituído à força.
Demonstra-se, assim, que o fascismo não é um fenômeno espontâneo, originado de forma obscura, quase mística. Não se trata de um “enlouquecimento coletivo” ou a revelação de um “instinto de morte” oculto. Ao contrário, é um movimento friamente arquitetado e executado pela burguesia para conter a classe operária de forma brutal, onde militares, comandados pelos grandes capitalistas, buscam esmagar os pobres para impor um sistema de superexploração.
Mas as ações violentas logo encontram uma resistência à altura. Não se trata de discursos ou cartazes, nem de simples palavras de ordem ou tentativas infantis de diálogo com a fria brutalidad da burguesia fascista, o que entra em cena é a ação direta, armada, violenta e organizada: os Arditis Del Popolo – Arditis do Povo, cujo lema é “surgimos do nada” tem como uma de suas palavras de ordem “sem medo da morte, sem medo da dor”.
Os Arditis del Popolo formaram-se de ex-combatentes voluntários de forças especiais do exército italiano que haviam lutado na Primeira Guerra. Usando o lema “surgimos do nada”, formam uma milícia de milhares de pessoas, com o objetivo de defender os trabalhadores contra os fascistas.
Os bairros operários tornam-se verdadeiras fortalezas. Os fascistas que insistem em tentar entrar são repelidos com violência, à bala. Muitos fascistas foram mortos, o que leva a uma crise, já que somente sabiam agir contra populações indefesas. A covardia dos fascistas, que não tem condições nem coragem para enfrentar uma resistência séria dos operários, leva a um sério recuo do fascismo na Itália. Coloca-se uma oportunidade real de vitória da classe operária.
No entanto, a esquerda ingressa em uma política com um único rumo: a derrota da classe operária. O Partido Socialista Italiano, acostumado tão somente com ações parlamentares, não apoia a ação direta e passa a semear a desconfiança dos operários nos Artitis.
Com discursos como o de “ninguém sabe quem comanda”, ou que “são nacionalistas como os fascistas”, ou ainda que a “atividade dos Artitis também é provocativa, o que poderá levar a maiores ações fascistas” as lideranças de esquerda afasta os operários deste verdadeiro exército de auto-defesa do proletariado, dando mais uma chance ao fascismo de se reorganizar.