Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE e divulgado na última quarta-feira, 6 de maio, os indicadores da tradicionalmente brutal desigualdade brasileira conseguiram apresentar uma expressiva piora, atingindo o pior patamar desde 2012. A pesquisa destaca ainda que a desigualdade vem aumentando desde 2015.
Com informações que permitem uma perspectiva do tamanho da pobreza e do atraso no Brasil, entre as quais a de que 1 em cada 4 lares do Norte e quase 1 em 3 das residências nordestinas precisam do Bolsa Família para sua segurança alimentar, a pesquisa ainda demonstra que entre os beneficiários do Bolsa Família, ou seja, a parcela mais pobre e explorada da população, 68,5% das residências não dispõe de acesso a rede de esgoto.
Este dado sozinho já coloca vivas cores na falácia absoluta da famigerada campanha “Fique em casa”. Não pode ser considerada normal uma pessoa que acredita na eficácia de se trancar seres humanos pobres em suas casas, seja pela via da quarentena imposta ou pelo “lockdown” policialesco, em condições grotescas de completa falta de insumos, inclusive tão básicos ao combate à pandemia do coronavírus quanto uma rede de esgoto e água tratada. No Centro-Oeste, o percentual geral de atendimento diário à rede de energia elétrica caiu de 99,2% das residências para 98,3%, um indicativo muito importante da sensível deterioração das condições de vida da população, especialmente os setores mais pobres.
O levantamento feito pelo IBGE é também importante para termos em mente sobre quem está sendo responsabilizado, pela propaganda burguesa, como fator produtor da expansão dos contágios da pandemia: os pobres. Esta imensa massa de explorados, muitos dos quais sequer conseguem dar um destino aos próprios dejetos, sendo obrigados na maioria das vezes a queimar o lixo produzido, empesteando o ar e poluindo o solo de suas regiões, vivendo em condições de total insalubridade e com uma renda mensal média de R$352, um montante inferior, por exemplo, ao valor médio das cestas básicas em todas as capitais analisadas pelo DIEESE em março deste ano. Famílias que sequer conseguem comprar uma cesta básica são, para a propaganda da direita, os culpados por morrerem e continuarem buscando a sobrevivência nas ruas, em condições de insalubridade ainda mais severas pela emergência da pandemia.
Esta propaganda, importante destacar, é defendida por muitos setores reacionários da esquerda pequeno-burguesa, que dependentes politicamente da burguesia, acabam por ignorar toda a conjuntura social em que a política de isolamento forçado se dá, a completa ineficácia disto ante a absoluta falta de vontade em produzir testes, dar meios financeiros à população para que permaneçam em casa, fornecer insumos básicos como água tratada e esgoto, energia elétrica, máscaras, álcool em gel e inclusive comida, enfim, efetivamente dar uma resposta séria aos problemas da pandemia em um contexto social marcado por abismos profundos e miséria crescente, inclusive com ameaça de um contingente equivalente a mais de 10 milhões de seres humanos serem atingidos pela fome.
É preciso uma política séria para combater a pandemia, não este cosmético produzido pela burguesia que representa, isto sim, uma grave ameaça ao amplo conjunto dos trabalhadores brasileiros. A pandemia do coronavírus e a resposta produzida pelo governo golpista de Bolsonaro evidenciam de maneira mortal a luta de classes, a qual só pode ser superada com uma mobilização popular capaz de impor, pela força das massas, os interesses concretos do povo trabalhador. Neste sentido, qualquer ação para combater a pandemia que despreze a luta política (evidenciada justamente pelo coronavírus) não passa de um distracionismo.