Desde janeiro de 2020, a crescente proliferação do novo Coronavírus transformou-se em um dos maiores desafios da humanidade. Entretanto, lidar com uma pandemia infecciosa de proporções continentais e mundiais não é algo recente na história.
Surtos de doenças repetem-se pelos séculos com algumas semelhanças, tanto na forma de propagação, quanto na contenção destas doenças. Desta maneira, pode-se equiparar esta pandemia com outras que ocorreram anteriormente e criar alguns paralelos entre os casos.
Durante alguns séculos da Baixa Idade Média (X – XV), a estabilidade econômica e social proveniente das Cruzadas e o desenvolvimento comercial propiciaram um tempo de relativa prosperidade. No entanto, a disseminação da Peste Negra na Europa Medieval provocou um violentíssimo processo de retração econômica onde a mão-de-obra disponível se tornava bem menor e, consequentemente, dificultava o equilíbrio entre a produção agrícola e a demanda alimentar. Estima-se que 2/3 dos habitantes das cidades foram infectados pela peste negra, e 70% destes morreram. No campo, a ocorrência foi menos intensa, mas ela não deixou de existir.
A falta de alimentos incitou muitos senhores feudais a promover o aumento dos impostos e obrigações a serem cobrados sobre a classe servil. Através dessa medida, os donos das terras buscavam garantir a manutenção de seu padrão de vida e, ao mesmo tempo, impedir que os camponeses saíssem de seus domínios com maior facilidade. No meio urbano, essas dificuldades também atingiram os trabalhadores livres que tiveram seus salários sensivelmente reduzidos com a diminuição do mercado consumidor.
Ao mesmo tempo em que estes fatores conjunturais contribuíram para que as relações entre servos e senhores feudais entrassem em crise, também as transformações climáticas ocorridas nessa época tiveram grande importância para a deflagração de várias revoltas camponesas.
Esses fatores geraram instabilidade social, que resultou em revoltas das classes exploradas contra seus exploradores.
Na Inglaterra, em 1381, os camponeses se revoltaram contra o aumento de impostos sobre os servos, contra a fixação dos salários e contra a volta da obrigatoriedade da permanência dos servos em uma dada propriedade. Grupos camponeses chegaram a marchar até Londres, destruindo edifícios e clamando por reformas.
Apesar de essas revoltas terem sido derrotadas, elas indicaram o início do fim da servidão na Europa Ocidental e a desintegração do mundo feudal, em decorrência das transformações sociais que geraram. Seria o início da transformação desses camponeses em futuros proletários, o que, conjugado com a centralização do Estado e a ampliação do comércio com o exterior da Europa, possibilitaria a criação das condições necessárias ao desenvolvimento do modo de produção capitalista.
Sabe-se que hoje – diferente daquela época em que nascia o proletariado, e com ele um longo caminho para o que se tem hoje – a evolução da força de trabalho e da técnica dão o diferencial e a disposição para solução e desenvolvimento de recursos para lidar com as intempéries da natureza e sobreviver a isso. Esses avanços representaram uma grande revolução na vida de todos.
Coma a evolução técnica do trabalho, a humanidade tem à sua disposição as condições para transformar a natureza e viver sem miséria, sem fome, e sem a necessidade de ter que se matar de tanto trabalhar, ou sobreviver à exploração e terminar a vida com um salário de fome na aposentadoria.
Embora a tecnologia esteja a nosso favor na exploração do necessário para viver uma vida abastada. A distribuição da renda e da riqueza não pode acontecer de forma a propiciar esse objetivo, uma vez que o modo de produção capitalista, que antes representou uma evolução para o desenvolvimento da força de trabalho, hoje é um retrocesso que faz com que, no combate às intempéries da natureza, e que inclui uma pandemia como a do Coronavírus, seja um grande problema que agrava ainda mais a vida do trabalhador e do povo pobre.
Semelhante ao que se deu no passado. Hoje a classe trabalhadora e o povo pobre estão morrendo nas mãos do governo neoliberal – o gerente da burguesia e o imperialismo – que impõe um padrão de vida miserável ao trabalhador. E estão morrendo pela pandemia – disseminada sem controle e sem disposição do governo para investir nas condições propícias a que coloquem toda a tecnologia a serviço da salvaguarda da vida dos menos favorecidos.
Sem recursos e sem o domínio dos meios de produção, e cada vez vivendo em piores condições, não resta outra alternativa ao trabalhador e ao povo pobre senão a se rebelar contra esse estado de coisas e, a exemplo do que aconteceu no passado, levar a sociedade a um novo patamar de desenvolvimento social e econômico.