Na edição de ontem (6) deste Diário, estabelecemos uma polêmica em torno da participação do governador maranhense Flávio Dino (PCdoB) no programa Fura Bolha, financiado pelo Instituto FHC. Na oportunidade, explicamos como o governador, que se apresenta como comunista, acaba por adotar uma política de colaboração de classes, submetendo os interesses da população a uma frente com o burguesia. Neste artigo, discutiremos os acenos explícitos que Dino deu para a direita, o que comprova que sua política não visa o comunismo, mas sim uma adaptação às exigências da classe dominante.
No programa, Flávio Dino teve como coparticipante o igualmente governador Eduardo Leite (PSDB-RS). Ex-prefeito da cidade de Pelotas, Leite faz parte de um esforço por parte da burguesia de tentar emplacar um político jovem, relativamente novo no cenário, que se dedique a aplicar a velha e falida política neoliberal implementada por Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Michel Temer. Ao lado de Dino, Eduardo Leite afirmou que apoiou a candidatura de Bolsonaro e que apoiaria novamente se esse se confrontasse com Lula ou alguém sob sua indicação. Apesar de não se considerar um bolsonarista, Leite afirmou que seu apoio a Jair Bolsonaro viria justamente da agenda econômica do governo, que seria contrastante com a agenda defendida pela esquerda. Mesmo criticando aspectos secundários do governo, Eduardo Leite declarou que o ministro da Economia Paulo Guedes estaria tomando decisões acertadas.
Que um governador do PSDB defenda descaradamente a política neoliberal, não é nenhuma surpresa. No entanto, chama a atenção o fato de que Flávio Dino, mesmo depois de escutar que estava diante de uma besta-fera a serviço dos capitalistas, pediu o apoio de Eduardo Leite em uma eventual candidatura à Presidência da República. Em um momento da conversa, Dino declarou: “tenho certeza que o Eduardo vota em mim no segundo turno”.
Ao mesmo tempo em que pediu o voto do PSDB, Flávio Dino, em pelo menos dois momentos, partiu para uma defesa explícita do programa da direita golpista no Fura Bolha. Ao discutir as privatizações, Dino falou que era necessário, em alguma medida, realizar desestatizações — o próprio Flávio Dino privatizou a companhia de gás maranhense no início do ano — e que apoiaria e faria campanha para Geraldo Alckmin (PSDB-SP) em um eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro.
Diante dos eventos citados, fica claro que Flávio Dino não esteve no programa para fazer propaganda de uma frente que levaria a esquerda ao poder, mas sim para implorar, de maneira desmoralizante e subserviente, o apoio da burguesia para seu projeto. Afinal de contas, se Dino pediu o voto de Eduardo Leite, se fez questão de vir a público defender o programa da direita de destruição do patrimônio nacional e não teve vergonha alguma de defender uma figura que entrará para a história como um dos governadores mais repressivos do estado de São Paulo, o governador maranhense se mostra em campanha não para o povo brasileiro, mas sim para a corja golpista que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e levou Bolsonaro ao poder.