No dia 26 de março de 1871, a classe operária de Paris tomar o poder na cidade e é declarada oficialmente a Comuna de Paris. Trata-se da primeira experiência histórica de um governo operário. Marx irá utilizar este acontecimento de grande importância para estabelecer as suas principais formulações sobre o caráter do chamado estado operário. Do ponto de vista histórico, a Comuna de Paris foi resultado da crise política e econômica que afetava de maneira duríssima a classe operária francesa (baixos salários, inflação, falta de alimentos, etc), após quase vinte anos vivendo sobre o governo de Luís Bonaparte – Napoleão III – que chegou ao poder por meio de um golpe de estado em 1852.
Após a derrota militar perante a Prússia, a crise política francesa atinge níveis revolucionários, Bonaparte é destituído do poder, uma nova Assembleia Nacional é convocada, porém garantindo o poder nas mãos das classes dominantes. Formada por monarquistas e republicanos burgueses, a Assembleia Nacional elege um representante da ordem para a chefia do governo, Adolphe Thiers.
Em Paris a população pobre, a classe operária se subleva contra o governo. Ao tentar desarmar a Guarda Nacional de Paris, a qual era compostas pelos próprios trabalhadores, o governo conservador é rechaçado da capital. As tropas do Exército são expulsas e os operários constituem um governo próprio.
Tem início então a Comuna de Paris, uma experiência histórica extraordinária, que comprovou na prática as teses marxistas sobre o caráter revolucionário e libertador da classe operária. Os operários de Paris estabelecem uma Milicia Popular, tendo como base a própria Guarda nacional. A Comuna é composta por um conselho de representantes eleitos nos bairros operários de Paris, com mandatos revogáveis a qualquer momento. De caráter legislativo e executivo, o conselho constitui uma verdadeira democracia operária, onde o que importava era estabelecer as medidas que colocassem fim a desigualdade de classe.
Dentre as principais medidas políticas e sociais da Comuna estavam: a eleição dos juízes, com mandatos também revogáveis, estabelecimento do ensino público e gratuito, controle dos preços dos alimentos, controle operário das fábricas, designação das casas e mansões abandonadas pela classe burguesa após o levante operário para a moradia popular, fim do trabalho noturno, fim das dívidas dos aluguéis, igualdade salarial entre homens e mulheres, etc.
Apesar de apontar os limites da tomada do poder pela classe operária parisiense, Marx saudou a Comuna de Paris como uma experiência histórica sem igual, “um passo à frente para a revolução proletária universal”, como dirá Lênin ao analisar as considerações do fundador do socialismo científico sobre a Comuna de Paris.
O governo operário dos comunnards, como se auto-proclamavam os trabalhadores durou exatamente 60 dias. As classes dominantes, a burguesia, juntamente com a nobreza, tendo apoio dos exércitos estrangeiros, inclusive da própria Prússia, colocaram abaixo o governo revolucionário da Comuna de Paris. Quase a totalidade das lideranças foram fuziladas pelas forças de repressão, estima-se que 40 mil trabalhadores foram presos e mandados para trabalhos forçados no exílio, a maior parte morreu por conta das condições degradantes.
Mesmo derrotada a Comuna foi um marco na história de luta da classe operária mundial. Quarenta e seis anos depois, após essa primeira experiência, os trabalhadores chegam novamente ao poder na Rússia, desta vez a revolução varre de maneira absoluta toda a resistência das classes dominantes. A Revolução Russa abre então e de maneira definitiva, a etapa revolucionária mundial rumo ao socialismo.