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Aliança com golpistas

25/09/1967: Jango e Lacerda em “frente ampla” contra ditadura

A adesão de Jango Goulart à Frente Ampla proposta pelo golpista Carlos Lacerda só serviu para atrair as massas populares para uma estrondosa derrota

A política da frente ampla não é uma novidade. Esta mesma política que está sendo usada nos dias de hoje onde a esquerda pretende se unir à direita golpista já foi utilizada inúmeras vezes na história. Sob a aparência da junção de forças se esconde uma estratégia de sabotagem dos movimentos populares. Um exemplo recente é o movimento das Diretas Já, que ocorreu entre 1983 e 1984 e que reivindicava o fim do regime militar e a restauração das eleições diretas para a Presidência do Brasil. Aquele foi um movimento que reuniu amplas massas populares, unindo as principais lideranças da esquerda com os setores “civilizados” da direita, como se tal coisa pudesse existir.

O resultado das frentes ampla é amplamente conhecido: derrota inevitável da esquerda e consequente humilhação e desmoralização da população. Outro caso escandaloso de frente ampla se deu entre 1966 e 1967 quando o “golpista arrependido” Carlos Lacerda criou um movimento que reuniu os ex-presidentes Jango Goulart e Juscelino Kubistchek para articular uma volta à democracia, um movimento que foi uma completa derrota e novamente uma desmoralização para a esquerda.

Histórico da frente ampla de 1966-1967

Nos anos seguintes após o golpe militar de 1964 boa parte dos principais líderes políticos da esquerda estavam exilados ou cassados. Em 1965 o presidente era Humberto de Alencar Castelo Branco, o primeiro da ditadura militar, sucessor do golpeado João Goulart, conhecido popularmente como “Jango”.

Uma das vozes que se levantava contra os primeiros anos do governo de Castello Branco era o jornalista e golpista de primeira hora Carlos Lacerda. Ele era um conhecido político e jornalista, dono do jornal Tribuna da Imprensa, que com seus constantes artigos, foi um ativo defensor dos golpes de estado contra Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, Jânio Quadros e Jango Goulart. Recebeu, com isso, o apelido de “derrubador de presidentes” pelo jornal francês Le Monde.

Foi um apoiador de primeira hora do golpe militar de 1964 mas começou a perceber que não teria lugar dentro do governo. Lacerda alimentava pretensões de se tornar presidente do país. Em junho daquele ano o Congresso Nacional aprovou uma emenda que prorroga o mandato de Castello Branco até março de 1967. E a decretação do Ato Institucional 2 em 27 de outubro de 1967 tornou a eleição presidencial um processo indireto, ou seja, pôs fim às pretensões de Lacerda. Esse AI-2 ainda reabriu processos de cassação e extinguiu os partidos políticos, implantando o bipartidarismo com duas novas agremiações, o partido do regime, Arena (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), em tese oposicionista, mas repleto de apoiadores do regime militar, inclusive em sua direção.

Os apoiadores de Lacerda se dividiram entre os dois novos partidos. As primeiras tentativas de construção da Frente Ampla se deram com os políticos do MDB. Em seguida Lacerda resolveu se distanciar da imagem de apoiador dos militares, procurando seus antigos adversários políticos numa tentativa de juntar forças para lutar pela “restauração da democracia”. Para isso abriu conversações com os três ex-presidentes anteriores, Jânio Quadros, Juscelino e Jango Goulart, para a instauração de uma Frente Ampla. Juscelino foi cassado pelo regime militar em junho de 1964 e estava morando em Lisboa. Jango foi cassado logo após o golpe e vivia em Montevidéu.

Adesão de Juscelino e Jango

Após articulações com o deputado federal Renato Archer, representante de Juscelino, Lacerda se encontra com o ex-presidente em Portugal e em 19 de novembro de 1966 os dois lançam a Declaração de Lisboa, comprometendo-se com o manifesto da Frente Ampla.

A adesão de Jango só se concretizou em 25 de setembro de 1967 no Uruguai. O compromisso entre os dois ex-inimigos ficou conhecido como “Pacto de Montevidéu”. Lacerda sabia que o apoio de Jango era vital para a Frente Ampla porque sua figura atrairia as classes trabalhadoras e os setores sindicais, tirando o caráter apenas de cúpula parlamentar que a Frente tinha até então.

A oposição mais eloquente contra a Frente Ampla era de Leonel Brizola e dos familiares de Getúlio Vargas, que se opuseram a alianças com um golpista como Carlos Lacerda.

Com a entrada de Jango a Frente Ampla passa a um período de maior mobilização, com comícios e atos públicos, especialmente com a participação do movimento estudantil. Foram dois grandes comícios populares, os primeiros depois da tomada do poder pelos militares, além de alguns outros menores. Em dezembro de 1967 foi realizado um grande comício em Santo André e um segundo em Maringá, ao norte do Paraná em abril de 1968. Este último comício reuniu mais de 15 mil pessoas.

Outro acontecimento importante do período foi o episódio do assassinato pela polícia do estudante Edson Luis Lima Souto no restaurante Calabouço no Rio de Janeiro, que desencadeou uma onda de protestos em todo o país. A contraofensiva da ditadura veio em seguida. Em 5 de abril de 1968 o Ministério da Justiça proibiu todas as atividades da Frente Ampla e ordenou a prisão de todos os participantes. Em 13 de dezembro de 1968 o governo do marechal-presidente Costa e Silva editou o AI-5, um conjunto de medidas que fechou o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas, passando por cima da constituição e fechando o regime, algo que durou até 1978.

A política de Frente Ampla foi o responsável pela derrota da esquerda contra o regime militar. Primeiro por ter feito a população apoiar toda a sua luta na atuação parlamentar, sem ter outras alternativas mais viáveis de luta. Segundo por fazer alianças com golpistas, o que significou ter que lutar contra a burguesia fazendo aliança com a própria burguesia. Terceiro porque serviu para criar um ambiente de confusão política onde já não era mais nem possível entender quem era o inimigo e contra quem se lutava. E isso finalmente levou a uma desmoralização completa da esquerda junto à classe trabalhadora, uma derrota que precisou de muitos anos para ser superada e fazer o movimento popular se reorganizar.

Os exemplos históricos estão aí para que todos possam refletir sobre a maneira como a esquerda deve agir nos dias de hoje. A Frente Ampla tem sempre o mesmo resultado, derrotas históricas da esquerda e da classe dos trabalhadores.

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