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Exploração na América

25/01/1538: quando a prata de Potosí começou a financiar o capitalismo

A prata de Potosí engordou o bolso não apenas da Coroa Espanhola, mas principalmente da burguesia europeia. Na América, deixou um saldo de oito milhões de mortos

Em 25 de janeiro de 1538, o indígena Diego Huallpa descobre o que seriam as maiores minas de prata do mundo na montanha Cerro Rico, em Potosí – Bolívia. Ele seguia as pegadas de uma lhama fugida e foi obrigado a passar a noite na montanha. Para não morrer de frio, fez fogo. A fogueira iluminou uma pedra branca e brilhante. Era prata pura. A partir dessa descoberta, o local passaria a ser cenário da morte de milhões de indígenas escravizados, por pelo menos dois séculos, na exploração do minério que enriqueceu não apenas a Coroa Espanhola, mas a burguesia de diversos países na Europa e Oriente.

A região onde se encontra a montanha foi povoada por civilizações nativas pré-incaicas, entre as mais importantes estão os Cantumarca com população estimada em 2500 habitantes no início da exploração mineira. Seu povoado era estabelecido próximo à montanha, conforme revelam os vestígios dessas populações antigas que ali viviam antes da chegada dos espanhois. Esse povo tinha sua Economia baseada na agricultura, pecuária e mineração.

Em meados do século XV, os incas chegaram na região. Segundo a lenda, o rei Huayna Capac teria enviado seus serviçais para explorar os minérios da montanha, mas chegando lá, ouviram um grande estrondo. Esse estrondo foi seguido de uma mensagem que dizia que os metais da montanha eram reservados a outros donos. Portanto, os incas tinham conhecimento do metal da montanha, mas não o retiravam. Desde então a montanha foi tida como sagrada para aquelas populações, até a chegada dos espanhois, sob o império de Carlos V. quando a montanha passou a ser largamente explorada.

Com a exploração do Cerro Rico, os espanhois fundaram a cidade de Potosí, em 1545. Cinquenta anos depois, Potosí já era a maior produtora de prata do mundo, chegando a ser a cidade mais rica das Américas, além da segunda cidade mais populosa do mundo, em 1611, com aproximadamente 150 mil habitantes.

Para o trabalho nas minas, os colonizadores recrutavam os indígenas que trabalhavam em condições de semiescravidão, com jornadas de dezesseis horas diárias cavando túneis e extraindo o metal. Muitos trabalhadores passavam meses dentro das minas, sem ver a luz do dia. Grande parte deles morreram vítimas de desnutrição, acidentes (soterramentos e quedas de grandes alturas) ou doenças pulmonares. Além disso, as rebeliões eram contidas com violência. Calcula-se que cerca de oito milhões de indígenas foram mortos no trabalho de mineração no Cerro Rico, em Potosí.

A prata era enviada à Europa de navio, pelo Pacífico e pelo Atlântico. A prata e ouro que se extraiu do Cerro Rico deu a volta ao mundo, ativando as economias de Europa e Oriente durante a colonização. Foi o padrão de prata da moeda da Índia, China e Turquia. Estima-se que entre 1503 e 1660, desembarcaram no porto de Sevilha 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata.

Conforme relata no livro As Veias Abertas da América Latina (1971) do escritor Eduardo Galeano, “Os metais arrebatados aos novos domínios coloniais estimularam o desenvolvimento europeu e até se pode dizer que o tornaram possível. Nem sequer os efeitos da conquista dos tesouros persas que Alexandre Magno derramou sobre o mundo helênico poderiam ser comparados com a magnitude dessa formidável contribuição da América para o progresso alheio. Mas não para o progresso da Espanha, ainda que lhe pertencessem as fontes da prata americana. (…) Os espanhóis tinham a vaca, mas quem bebia o leite eram os outros. Os credores do reino, estrangeiros em sua maioria, sistematicamente esvaziavam as arcas da Casa de Contratação de Sevilha, encarregada de guardar sob três chaves, em três diferentes mãos, os tesouros da América.”

Nesse contexto, quase todos os carregamentos de prata eram antecipadamente cedidos a banqueiros alemães, genoveses, flamengos e espanhois. Somente uma parcela mínima da prata, cerca de 5%, era aplicada na Economia espanhola.

Em 1825, a maior parte da prata no Cerro Rico já se tinha esgotado e a população de Potosí caiu para oito mil habitantes, voltando a subir anos depois com a exploração de estanho. Segundo o censo de 2009, Potosí possui 195 mil habitantes.

Em 1987, o Cerro recebeu o título de Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade da Unesco. A extração mineira continua até hoje com as mesmas técnicas desde os tempos da dominação colonial espanhola, por isso, muitos mineiros ainda trabalham em condições muito precárias. Hoje, Potosí vive basicamente da exploração do que sobrou no Cerro Rico e do turismo.

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