Há 84 anos, o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC) do governo de Getúlio Vargas criava o Programa Nacional, que em 1938 se tornaria Hora do Brasil e, em 1965, se tornaria a Voz do Brasil.
O rádio já existia no Brasil oficialmente desde 7 de setembro de 1922, desde as comemorações do centenário da Independência. A criação do Programa Nacional em 1935 foi obra de Armando Campos, e sua apresentação ficou a cargo do locutor Luís Jatobá. Nas primeiras transmissões, iniciadas então às 18h45, apenas oito emissoras entraram e cadeia.
Em 3 de janeiro de 1938, o Programa Nacional passaria a ser produzido pelo Departamento Nacional de Propaganda (DNP), tornando-se obrigatório em todas as emissoras de segunda a sexta, às sete da noite. No ano seguinte, ainda no governo Vargas, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) substituiria o DNP, atribuindo três finalidades ao Programa: transmissão de músicas brasileiras de “bom gosto”; incentivar o civismo; informar a população sobre os projetos e atividades do Estado brasileiro na figura do presidente Vargas. O programa não se limitava ao radiojornalismo chapa branca, mas apresentava também documentários históricos – “recordações do passado” –, peças de radioteatro e mesmo palestras semanais do Ministro do Trabalho, Alexandre Marcondes Filho entre 1942 e 1945. Em 1962, com o Código Brasileiro de Telecomunicações, o Poder Legislativo passaria a ocupar a segunda metade do programa.
A campanha contrária das rádios privadas – obrigadas a retransmitir o noticiário oficial em pleno horário nobre – sempre surtiu seu efeito, conferindo ao Programa ainda na década de 1930 a pecha de “Fala Sozinho”. Em toda mudança de regime – tanto no governo Dutra quanto na chamada Nova República – a burguesia ligada às rádios investe contra as redes públicas de comunicação, e a Voz do Brasil é atacada e entra em vias de extinção, persistindo sobretudo por ser – ainda hoje – o único programa de radiojornalismo a chegar em diversas regiões do país.
Desde 1938, o programa tinha como tema de abertura da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, acompanhado do indefectível anúncio “Na Guanabara, 19 horas”, depois substituído por “Em Brasília, 19 horas”. Em que pese o inescapável tom oficial – que provavelmente só manteve a credibilidade de Salomé de Passo Fundo e da Velhinha de Taubaté –, não foram poucas as tentativas de modernização do programa e de seu formato. Talvez a mais perceptível tenha ocorrido durante a gestão de Eugênio Bucci à frente da Empresa Brasil de Comunicação, entre 2003 e 2007, quando o arranjo da música passou a ser executado pelo grupo baiano Olodum. Bucci tentou ainda, com algum sucesso, constituir uma EBC capaz de ir além do noticiário oficial.
A Voz do Brasil, em todo caso, nunca deixará de ser o que é: um veículo oficial de propaganda governamental – talvez minimamente contraposto pelas falas da oposição no Congresso Nacional: algo limitado, incapaz de produzir diversidade. Por outro lado, sua onipresença no cotidiano de todo brasileiro, por meio dos 80 milhões de receptores de rádio em nosso território, lembra-nos diariamente que as redes de rádio e televisão são uma concessão do povo brasileiro às empresas privadas, que jamais deveriam ter o monopólio que hoje têm. Lembra-nos, afinal, que é possível cassar sem mais a concessão da rede Globo, apoiadora e promotora da ditadura militar e do golpe de 2016.