Dia de Hoje na História – Há 77 anos, após uma reunião com seus ministros no Palácio Guanabara, nas Laranjeiras, o presidente Getúlio Vargas anunciava que decretaria guerra aos países do Eixo: Alemanha, Itália e Japão. Era a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, constante clamor popular frente ao sistemático afundamento de navios mercantes nacionais em nossa própria costa por submarinos alemães.
Com isso, Vargas punha fim definitivamente à política ambígua que conduzira frente ao conflito. Como se sabe, assim como outros governos de caráter nacionalista burguês da América Latina, o Estado Novo de Vargas nunca escondera sua afinidade com o fascismo europeu, representado sobretudo pelos governos de Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália. A política de esmagamento dos movimentos operários era conveniente num país em acelerado processo de urbanização e industrialização, fazendo o contraponto demandado pela burguesia à ameaça de insurreição da classe trabalhadora, que já se mostrara bastante real desde a tentativa revolucionária de 1935, que viria a ser conhecida por Intentona comunista.
Vargas não apenas flertava com a Alemanha nazista à distância. A aproximação comercial entre os dois países evoluíra tanto ao longo da década de 1930 que o gigante sul-americano se tornara o sexto maior parceiro comercial dos alemães. Depois da revolução de 1935, as forças de repressão brasileiras haviam passado a cooperar sistematicamente com os esquadrões de extermínio nazistas, deportando sistematicamente militantes comunistas germânicos para a morte em campos de concentração europeus – como no célebre caso de Olga Benario, esposa de Luís Carlos Prestes. Havia no Brasil uma articulação política concreta de alinhamento com o fascismo. Não apenas no conhecido Movimento Integralista como também na presença de uma extensa colônia germânica na Região Sul, que montava milícias nazistas e organizara mesmo diretórios regionais do Partido Nazista em nosso território.
Os Estados Unidos haviam rompido relações diplomáticas com os países do Eixo desde dezembro de 1941, quando do ataque das forças japonesas à base americana de Pearl Harbor, no Pacífico. O Brasil romperia relações diplomáticas com os países fascistas após a Reunião de Chanceleres de 28 de janeiro de 1942, no Rio de Janeiro, mas não entraria em guerra contra eles. A partir de então, os alemães passariam a afundar as navios mercantes brasileiros no Atlântico, de modo a impedir o abastecimento das forças dos Aliados com matéria-prima. Em sete meses, 19 embarcações seriam torpedeadas por submarinos em nossa própria costa, com grandes perdas econômicas e de vidas humanas. Somente o U-Boot U-507 afundaria seis navios em cinco dias, matando 600 pessoas entre 15 e 19 de agosto – 270 no Baependi, na costa de Sergipe.
Naquele momento, a própria população brasileira, em manifestações chamadas inclusive pela União Nacional dos Estudantes (UNE), já vinha às ruas instando o governo a declarar guerra à Alemanha. Acresce que, com o rompimento de janeiro, já se rompera em grande medida a relação comercial com a Alemanha.
Por outro lado, após a declaração de guerra, o Brasil não enviaria imediatamente tropas para o teatro de operações. As primeiras ações seriam no sentido de desmantelar as organizações nazistas dentro do país, de prender e deportar seus líderes, de confiscar os bens dos imigrantes, de isolar as comunidades, de bloquear definitivamente os negócios da burguesia nacional com empresas alinhadas com o inimigo. Embora a costa do Nordeste fosse usada como ponto de apoio para as batalhas no norte da África, Somente um ano depois, em agosto de 1943, foi organizada a Força Expedicionária Brasileira – FEB. Outro ano seria gasto no processo de equipar e treinar as tropas brasileiras.
Em 30 de junho de 1944, embarcaria o primeiro contingente de combatentes rumo à Itália. Ao todo, seriam enviados 25 mil soldados em um ano de combate, de um total previsto de 100 mil. Cerca de 450 morreram e três mil seriam feridos. Algumas fontes registram 1000 mortos, mas em qualquer caso, o país teria um número extremamente baixo de perdas frente a outros países envolvidos mais diretamente no conflito. Para que se tenha uma ideia, a União Soviética perderia cerca de 10 milhões de soldados e os Estados Unidos teriam 416 mil mortos.
Ao fim e ao cabo, se o flagelo da guerra traria o benefício de debelar momentaneamente a ameaça fascista contra a classe operária em diversos países e no próprio Brasil, por outro lado o “esforço de guerra” não seria suficiente para impulsionar resolutamente um protagonismo brasileiro na política externa global, nem para melhorar efetivamente as condições de vida da classe trabalhadora, já que a resoluta aproximação política e comercial com os Estados Unidos apenas tornaram-nos ainda mais dependentes do Imperialismo norte-americanos.