Há 73 anos, o jovem presidente da Bolívia, o major Gualberto Villarroel López, era morto pela população, arrastado e dependurado em praça pública junto a três colaboradores próximos. Embora o ato houvesse sido inspirado na execução de Mussolini, tratou-se de um movimento impulsionado pelo Imperialismo norte-americano.
Assim como outros países da América do Sul, no início do século 20, a Bolívia era – e ainda é – um país extremamente desigual e especialmente racista, em que a classe baixa é praticamente toda composta por indígenas e a burguesia composta por fazendeiros e donos de minas de estanho são brancos – formando a chamada Rosca.
Um elemento-chave para luta dos trabalhadores na Bolívia foi a Guerra do Chaco (1932-1935), perdida para o Paraguai, em que cerca de 50 mil bolivianos morreriam. No conflito, não apenas muitos indígenas aprenderiam a combater e a se organizar, como também, o contato com a miséria despertaria consciência de classe de muitos setores da pequena-burguesia, que se reuniriam em torno a uma espécie de tenentismo boliviano chamado Socialismo Militar.
Seus governos representariam uma espécie de radicalização do nacionalismo burguês de toda a América Latina – assim como Vargas e Perón. Gualberto Villarroel fora um expoente deste movimento que promoveria diversos avanços para os trabalhadores, nacionalizadno a Standard Oil, melhorando a legislação trabalhista e impulsionando o sindicalismo e sua organização.
Em 1939, o Socialismo Militar sofreria um golpe de direita de Enrique Peñaranda, ligado ao Imperialismo norte-americano. Se formaria então o Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR): anti-imperialista, anti-oligárquico e nacionalista.
Em 1942, mineiros entram em greve, e 35 operários são assassinados pela repressão de Peñaranda. A convulsão popular seria tal que o MNR lograria chegar ao poder em 1943, com Villarroel na Presidência e Victor Paz Estenssoro no Ministério da Fazenda. O governo de Villarroel criaraia o primeiro Consejo Nacional Indígena, bem como a Federacion Sindical de los Trabajadores Mineros de Bolivia (FSTMB), suprimindo o trabalho escravo.
Em pleno pós-guerra, o Imperialismo, aliado à burguesia local e com participação significativa da esquerda pequeno-burguesa – agrupada em torno dos stalinistas do Partido de la Izquierda Revolucionaria (PIR) passaria a acusar o presidente de fascismo.
Montaram uma política de frente única com a direita “em nome da democracia”. Uma manobra em que mesmo os trotskistas do Partido Obrero Revolucionario (POR) se veriam envolvidos, promovendo em julho de 1946 o linchamento do presidente.
Com a morte de Villarroel, a burguesia ligada ao Imperialismo voltaria ao poder no chamado Sexenio Rosquero, com o apoio do próprio PIR. O erro da esquerda, naquele momento, foi não entender que o movimento nacionalista, mesmo partindo de setores militares e da burguesia, expressava uma oposição efetiva e legítima ao Imperialismo – expressão acabada do capitalismo monopolista.
Em novembro daquele mesmo ano de 1946, os operários se reuniriam no Congreso Extraordinario Minero de Pulacayo, em que o POR aprovaria uma adaptação do Programa de Transição da Quarta Internacional, elaborada pelo jovem Gillermo Lora, conhecida como Teses de Pulacayo. O programa estaria na base de uma gigantesca revolta popular de camponeses e operários em 1952, que poria fim ao governo de direita e levaria Paz Estenssoro ao poder, com formação de milícias populares, reformulação do exército, nacionalização das minas e seu controle pelos operários.
O linchamento do presidente boliviano é um episódio clássico de manipulação do movimento de massas e de setores da esquerda pelo Imperialismo, que depois teriam expressões mais maduras nas chamadas Revoluções Coloridas do século 21, concretizadas no Brasil, por exemplo, nas manifestações de junho de 2013.