Dia de Hoje na História – Há 124 anos, nascia Dyonélio Machado: militante comunista, médico, escritor. Como revolucionário, participou do levante de 1935, liderando o movimento no Rio Grande do Sul. Como médico, foi pioneiro da psiquiatria no Brasil. Como escritor, produziria algumas das grandes obras da literatura brasileira do século 20, como Um pobre homem, Os ratos ou O louco do Cati.
Dyonélio Tubino Machado nasceu em Quaraí, RS. Seu pai seria assassinado, e com oito anos ele se veria obrigado a trabalhar para auxiliar na renda doméstica: vendia bilhetes de loteria, dava aulas particulares para colegas de escola, foi servente na redação do jornal O Quaraí, criando gosto pelo jornalismo e pelo meio intelectual. Ainda em sua cidade natal, fundaria em 1911 o jornal O Martelo, mudando-se para Porto Alegre no ano seguinte para concluir o ensino médio. Retorna a Quaraí, onde dirige o jornal da cidade por sete anos. Em 1921, estaria novamente na capital, fundando o jornal A informação, ligado ao Partido Republicano – oposição ao governo central, o qual o fecharia no ano seguinte. Em 1923, publicaria o ensaio Política contemporânea: três aspectos, ingressando na faculdade de medicina.
Dyonélio se formaria em 1929, especializando-se em psiquiatria no Rio de Janeiro e passando a aplicar a psicanálise à clinica psiquiátrica. Sua tese seria Uma definição biológica do crime, publicada em 1933. Em 1934, traduziria Elementos de psicanálise, de Edoardo Weiss.
A política se manteria como uma de suas preocupações centrais, e Dyonélio se identificaria com o Partido Comunista Brasileiro, sendo eleito presidente da Aliança Nacional Libertadora (ANL) na década de 1934, dando combate à crescente onda fascista que por meio do Integralismo também assolava o Brasil. Em 1935, seria preso por atentado contra a ordem política e social ao trabalhar na mobilização de uma greve dos gráficos. No mesmo ano, lideraria no Rio Grande do Sul o movimento revolucionário comunista nacional, comandado por Luís Carlos Prestes, que fracassaria e seria conhecido como Intentona Comunista. Seria novamente preso, torturado e enviado para o Rio de Janeiro, num total de dois anos de cárcere político. Só então ingressaria definitivamente no PCB, pelo qual seria eleito deputado estadual, juntamente com Antônio Ribas Pinheiro Machado Neto e Otto Ohlweiler, em 1947. Em meio à guerra fria e nos alvores do macartismo, o Partido e os mandatos de seus parlamentares seriam cassados em janeiro de 1948, e Dyonélio não mais se candidataria a qualquer cargo pelo PCB.
Na Porto Alegre da década de 1930, fazia parte da chamada Turma da Praça da Harmonia, um grupo de médicos e intelectuais de que também faziam parte Celestino Prunes, Eduardo Guimarães, Alceu Wamosy e Almir Alves. Em 1927, publicaria seu primeiro livro de ficção, a coletânea de contos Um pobre homem, em que usava personagens marginalizados e miseráveis para trazer a oralidade à escrita. No texto que dá nome à obra, o interesse pela aquisição de máquinas agrícolas torna o trabalhador insensível à morte da filha.
Em 1934, incentivado por Érico Veríssimo, escreve para um prêmio literário nacional o romance Os ratos, que ficaria entre os quatro vencedores sendo publicada no ano seguinte, em meio ao turbilhão político do momento. O livro, que se tornaria sua obra mais importante, conta um dia na vida de um funcionário público pobre que busca a todo custo obter dinheiro para pagar uma dívida com o leiteiro, o qual ameaça cortar o alimento de seus filhos. Dyonélio publicaria ainda, entre outras obras, O louco do Cati (1942), Deuses econômicos (1966), Fada (1982), Ele vem do fundão, além do ainda inédito O estadista.
Dyonélio morreria em Porto Alegre, em 19 de junho de 1985, no final da ditadura militar que assolaria o país por 21 anos. Proscrito e censurado em seu tempo por sua militância comunista, só seria aclamado e reconhecido pela crítica na década de 1990. Sua obra – que perpassou o romance, o conto, a poesia, o ensaio – reflete tanto sua profissão em seu intenso psicologismo quanto seu compromisso político em seus temas e personagens, colocando-o entre os grandes autores do século 20.