Há 230 anos, 567 deputados do Terceiro Estado se reuniram a revelia do monarca Luís XVI numa quadra esportiva de jogo de péla (espécie de jogo de tênis) nas proximidades do palácio de Versalhes, tirando um manifesto que ficaria conhecido por Juramento do Jogo de Péla. Foi um momento fundamental do desenvolvimento da Revolução Francesa – a mais importante das revoluções burguesas.
Com a crise do Antigo Regime, de natureza feudal, sobreveio uma forte crise econômica ensejando a convocação dos Estados Gerais – espécie de Congresso Nacional – em que o Primeiro Estado (o Clero) o Segundo Estado (a Nobreza) e o Terceiro Estado (a burguesia, o baixo clero e os trabalhadores) tinham um voto cada um – o que evidentemente beneficiava os interesses da Monarquia associada à Igreja.
Desde fevereiro daquele ano, os representantes do Terceiro Estado reivindicavam o direito a voto individual, o que estabeleceria uma avassaladora maioria para as classes insurgentes – representantes de 98% da população. Em 17 de junho, os deputados se declaram reunidos em Assembleia Nacional – o que reforçaria a demanda – a partir de moção apresentada pelo jurista Jérôme Legrand e defendida Jean-Joseph Mounier.
Temendo a insurreição, o Rei ordena – a pretexto de realizar obras – o fechamento da sala dos Estados Gerais no Palácio de Versalhes em 20 de junho. Pressentindo o fechamento da Assembléia, os deputados não se intimidam e decidem transferir a reunião para uma quadra de jogo de péla (salle du Jeu de paume) nas imediações do Palácio, por sugestão de Joseph Ignace Guillotin. Mounier propõe um juramento à Assembleia de “jamais se separar, e de se reunirem em todos os locais onde as circunstâncias exigirem, até que a Constituição do Reino seja estabelecida e assentada em bases sólidas”. O texto é lido por Jean-Silvain Bailly e aprovado praticamente por unanimidade – com abstenção de apenas um representante.
No dia 23 de junho, reunida a Assembleia, o Rei ameaça com dissolução à força e prisão dos agora constituintes. Mirabeau teria reagido aos oficiais “digam àqueles que os enviaram que nós estamos aqui pela vontade do povo que que não nos tirarão daqui senão pela força das baionetas”. O mesmo parlamentar propõe então que a Assembleia decrete a inviolabilidade de seus membros – algo digno de nota num tempo em que campos ditos “progressistas” no Brasil advogam o fim do foro especial para parlamentares.
O episódio teria enorme impacto na mobilização que culminaria com a derrubada da monarquia e o estabelecimento de uma República Constitucional na França, após a tomada da Bastilha: nada menos que a mais impactante revolução burguesa, que firmaria o modo de produção capitalista em todo o mundo.