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20 de julho de 2000 – morre Eladio Dieste, mestre da cerâmica armada

Há 19 anos, morria em Montevidéu o arquiteto e engenheiro uruguaio Eladio Dieste, responsável por desenvolver de modo único no mundo a tecnologia da cerâmica armada, que por meio do cálculo estrutural avançado permite vencer grandes vãos com materiais de baixo custo e comuns como tijolo e argamassa. Juntamente ao brasileiro Joaquim Cardozo ou ao mexicano Félix Candela é um dos responsáveis latino-americanos pelo avanço da arquitetura e da engenharia estrutural mundial. As obras de Dieste têm a elegância da simplicidade ao mesmo tempo em que causam surpresa por suas formas inesperadas.

Nascido em Artigas, no interior do Uruguai, em 1º de dezembro de 1917, Eladio Dieste estudou Engenharia Civil na Universidad de la República em Montevidéu, onde se formaria em 1943, passando a lecionar Mecânica no ano seguinte. Abriria com seu sócio, Eugenio Montañez o escritório Dieste-Montañez. A dupla faria parte da chamada Geração de 45, como ficaria conhecido um grupo de intelectuais da capital então. Dieste era amigo pessoal dos filhos de Joaquín Torres García, influente pintor modernista que trabalhara na construção da Sagrada Familia em Barcelona, Espanha – obra máxima do arquiteto catalão Antoni Gaudí.

Dieste aprenderia Arquitetura na prática com os profissionais do Escritório Técnico da Direção de Arquitetura do Ministério de Obras Públicas, que chefiaria a partir de 1945, passando a trabalhar em seguida na empresa dinamarquesa Christiani & Nielsen, onde trabalharia com formas deslizantes para pontes, passando em seguida à construtora Viermond S.A., de Leonel Viera, responsável por notáveis estruturas de concreto armado.

No início dos anos 50, teria ainda uma profícua parceria com o arquiteto moderno Luis García Pardo, cujas obras calculou e construiu, inclusive a Igreja Paroquial São João Bosco (1960), de notável semelhança com outras obras de Dieste. Teria ainda relação próxima com os arquitetos Carlos Clémot e Justino Telésforo Serralta Pérez que haviam trabalhado com Le Corbusier em Paris, bem como com o catalão Antoni Bonet i Castellana.

Bonet também trabalhara com Le Corbusier e rumara para Buenos Aires em 1938, fugindo da Guerra Civil Espanhola, onde fundara o Grupo Austral com os argentinos Juan Kurchan e Jorge Ferrari Hardoy. Em 1945, o arquiteto realizaria uma série de obras no balneário Punta Ballena, em que Dieste – recém-formado – trabalharia. Foi na casa Berlingheri que Dieste calculou pela primeira vez abóbadas de tijolos. É então que o engenheiro percebe que pode obter espessuras finíssimas nesses elementos, ao utilizar as juntas como pequenas nervuras armadas com vergalhões de aço. Os tijolos maciços, por sua vez, apresentam elevada resistência à compressão.

A esta técnica, Dieste incorpora elementos da chamada arquitectura funicular, desenvolvida por Gaudí meio século antes, bem como os avanços de cálculo estrutural do suíço Robert Maillart, que calculara o Pavilhão do Cimento em 1938 em Zurique do brasileiro Joaquim Cardozo, que construíra a Igreja da Pampulha de Oscar Niemeyer com abóbadas parabólicas em 1943, e do espanhol Eduardo Torroja, com o Hipódromo de la Zarzuela construído em Madri em 1931, durante a Segunda República. A essência de tal concepção estrutural é o enrijecimento dos elementos estruturais por meio de sua geometria tridimensional, adotando para isso formas componíveis com retas – correspondentes às armaduras de aço e à formas de madeira –, tais como parabolóides hiperbólicos, senoides, conoides e elementos de dupla curvatura em geral.

O método apresentaria diversas vantagens. Além da economia evidente de material proporcionadas tanto pelas reduzidas espessuras das cascas quanto pelo baixo custo do tijolo em relação ao concreto, essa tecnologia apresentava um tempo de execução consideravelmente menor, devido ao reduzido tempo de cura do concreto das nervuras. Além disso, Dieste associaria a essa técnica o uso de formas deslizantes, que permitem usar a mesma forma para grandes extensões de coberturas, por exemplo.

Com baixo custo e facilidade de execução, Dieste passaria a vencer diversas licitações de obras públicas, tais como os galpões do depósito de combustíveis da estatal de petróleo uruguaia Ancap (1955); o depósito de bobinas de papel do jornal El Pais (1956) ou os celeiros para o Banco de la República Oriental del Uruguay, BROU (1957).

Esta tipologia seria constante nas realizações de Dieste em toda a sua vida, e lhe renderia inclusive a encomenda de obras no Brasil, como os galpões do Ceasa de Porto Alegre, projetado pelos gaúchos Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio Araújo e Carlos Eduardo Comas em 1969. Realizaria ainda galpões nos Ceasas do Rio de Janeiro e de Maceió, no Centro de Manutenção do Metrô do Rio, o terminal de ônibus de Uberlândia, o Clube do Trabalhador e Escola de Música do Sesi de Fortaleza – projeto de Severiano Mário Porto – ou o edifício da Assembleia Legislativa do Piauí, projetada por Acácio Gil Borsói.

Ceasa de Porto Alegre, 1969.

 

 

 

Como não poderia deixar de ser, Dieste resolveria o problema dos grandes vãos em sua aplicação mais clássica: os templos religiosos. Talvez uma de suas obras mais conhecidas seja a Iglesia de Cristo Obrero y Nuestra Señora de Lourdes em Atlántida, Uruguai, projetada em 1952 e construída em 1960, com paredes ondulantes naturalmente enrijecidas por sua hábil geometria. Destaca-se ainda a Iglesia de San Pedro em Durazno (1967), célebre por sua roseta de tijolos.

Igreja do Cristo Operário, 1952-1960.

 

A obra de Eladio Dieste representa um ponto alto do engenho construtivo humano. Fruto de um profundo conhecimento dos métodos mais avançados de cálculo estrutural, mas também da prática, da experimentação com protótipos e provas de carga, da imaginação própria da falta de recursos típica de nosso continente, tantas vezes atacado, diminuído e empobrecido pelos países centrais do imperialismo.

Seu trabalho influenciou e influencia diretamente arquitetos de todo o mundo até hoje, desde o paraguaio Solano Benítez até o chinês Wang Shu. Obras de dupla curvatura se popularizaram como soluções viáveis em diversos rincões do Brasil, pelas mãos de seguidores como o mineiro Rônei Lombardi ou os paulistas Affonso Risi e Vítor Lotufo. Eladio Dieste é um dos grandes inventores da arquitetura latino-americana.

 

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