No dia 20 de julho de 1897 foi fundada a Academia Brasileira de Letras (ABL). Aos moldes da academia francesa, eram 40 membros efetivos e perpétuos, os célebres imortais. Dentre eles, se destaca o escritor Machado de Assis, o qual ocupou o cargo vitalício de primeiro presidente da instituição literária. Machado era negro, de origem pobre e sem formação acadêmica, e mesmo assim foi eleito por aclamação, ou seja, entre aplausos e em unanimidade com os membros. Como também ainda é tido por muitos como o maior escritor brasileiro.
Há 123 anos, na antiga capital nacional, a cidade do Rio de Janeiro, ainda sem sede própria e sem recursos financeiros, era realizada a sessão inaugural da instalação literária, no museu de pedagogia Pedagogium, no centro do Rio. A ABL tem como objetivo principal o cultivo da língua portuguesa e da literatura brasileira. Por isso é responsável pela edição de obras com grande valor histórico e literário, como também atribui diversos prêmios. A iniciativa da fundação foi encabeçada pelo escritor Lúcio de Mendonça, que se concretizou em uma série de reuniões preparatórias que começaram no final de 1896.
Machado era um dos principais colaboradores da Revista Brasileira, Jornal de Literatura, Teatros e Indústria desde 1855, revista que foi renomeada como a Revista oficial da ABL, nela, ele contribuiu com folhetins que se tornaram obras atemporais, tais como Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Assim, na redação da Revista, antes mesmo da fundação da ABL foi nomeado seu primeiro presidente. Além disso, sobre sua direção, foram aprovados os estatutos da ABL em 28 de janeiro de 1887, e composto os quarenta membros fundadores. A iniciativa foi fundamental para consolidar a língua brasileira, e promover, mesmo que de forma limitada, o desenvolvimento nacional.
Vale ressaltar ainda que Machado quebrou com a lógica burguesa do intelectualismo. Nascido no Morro de Livramento (RJ), mestiço e de uma família pobre, ele nem chegou a finalizar seus estudos em escolas públicas e nunca frequentou uma universidade. Ainda assim, rapidamente se nutriu da intelectualidade desenvolvida na Capital, e foi reconhecido pelos seus escritos desde jovem. Era ele quem pensava a instituição, e ninguém discordava de seu papel fundamental e disciplinado como presidente, das 96 sessões da academia, faltou somente a duas, e entregou sua vida às letras portuguesas e a literatura nacional. No discurso inaugural da fundação da ABL, o escritor e primeiro presidente declarou:
“Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira.”
Qualquer organização popular precisa defender a cultura do País, em especial os representantes do povo. Machado de Assis, um negro, morador da favela no Rio de Janeiro, autodidata, brasileiro, tornou-se um dos maiores escritores do mundo, ele é um produto do povo e da sociedade brasileira, e precisa ser reconhecido e aclamado por festejar e desenvolver a cultura nacional.