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18 de julho de 1936 – golpe militar inicia a Guerra Civil Espanhola

Há 83 anos, a extrema direita espanhola, o dito Movimiento Nacional, iniciaria um golpe militar contra o governo de Frente Popular que vencera as eleições de 16 de fevereiro de 1936. Manuel Azaña subia ao poder naquele que seria o último ciclo da Segunda República Espanhola. O general Francisco Franco, no comando das Ilhas Canárias, rumaria para Marrocos para encabeçar o Exército Espanhol na África, que avançaria sobre a Península Ibérica. O levante se multiplicaria em vários quartéis do país, ensejando uma imediata insurreição popular contra o golpe, derrotando-o na Catalunha, em Madri, nas Astúrias e em vários outras regiões. Iniciava-se a Guerra Civil que se estenderia até 1939, com mais de um milhão de mortos e a ascensão de Franco ao poder numa ditadura fascista que duraria até 1975 – na Europa, uma longevidade equiparável apenas ao regime de Salazar em Portugal.

Com a crise do Capitalismo, caíra a ditadura de Primo de Rivera e em seguida a monarquia espanhola com a proclamação da República em abril de 1931. O governo provisório e o Primeiro Biênio (1931-1933) – presidido por Manuel Azaña – ainda que de conciliação de classes, tivera uma natureza predominantemente progressista. Estabeleceu a separação entre igreja e Estado, admitindo a liberdade de culto; reconheceu a autonomia da Catalunha e avançou no mesmo sentido em relação ao País Basco e à Galícia; impôs uma reforma militar expurgando os elementos mais direitistas das posições de comando; iniciou um programa de reforma agrária; garantiu o direito ao casamento civil e ao divórcio; regulamentou as negociações coletivas nas relações trabalhistas; tornou o ensino laico e iniciou um programa de alfabetização ampla da população.

Tais avanços se produziam não apenas em função de uma necessária dinamização da economia como também devido ao alto nível de organização dos trabalhadores espanhóis, em torno a centrais sindicais e partidos políticos. Desnecessário dizer que, em meio à ascensão do fascismo no restante da Europa, estes progressos seriam duramente combatidos. Já em agosto de 1932, a direita avançou com uma tentativa de golpe militar. A igreja católica organizaria a Confederación Española de Derechas Autónomas (CEDA), que se tornaria uma das principais forças reacionárias naquele momento.

Em 1933, as contradições internas da política de conciliação de classes da esquerda enfraqueceriam consideravelmente o governo de Azaña, que perderia as eleições para a direita já reorganizada em torno a Alejandro Lerroux, do Partido Republicano Radical, iniciando o chamado Segundo Biênio (1934-1936), radical-cedista, ou conservador, que se dedicou sobretudo a reverter as conquistas do período anterior da República.

A esquerda voltou a organizar uma Frente Popular ainda mais ampla, em torno à Izquierda Republicana – do próprio Azaña – e à Unión Republicana, mais à direita (egresso do partido de Lerroux), além do Partido Nacional Republicano de natureza centrista. Pela esquerda, a frente ganhou a adesão do Partido Comunista de España (PCE), que seguia a política stalinista de Frentes Populares, além do Partido Socialista Obrero Español (PSOE) – com a Unión General de Trabajadores (UGT). Vencido o pleito presidencial pela Frente Popular, a polarização era tal que a direita tentou impedir a posse de Azaña, que acabaria passando o governo a seu correligionário Santiago Casares Quiroga.

Por um lado, José Antonio Primo de Rivera – filho do antigo ditador – organizaria a Falange Española: uma milícia fascista cada vez mais ativa. Por outro lado, a classe trabalhadora entraria num estado crescente de sublevação contra a política centrista da Frente Popular, com greves generalizadas coordenadas pela UGT e pela Confederación Nacional del Trabajo da Federación Anarquista Ibérica (CNT/FAI). Nesse contexto, formara-se ainda o Partido Obrero de Unificación Marxista (POUM), comandado por Andrés Nin e Juan Maurín – inicialmente trotskista mas depois oscilante em relação à política de Moscou.

Com o golpe militar fascista, Quiroga renunciaria, e Azaña indicaria para a presidência a Diego Martínez Barrio, líder da Unión Republicana, que buscava uma saída institucional de acordo com os golpistas. Diante da traição, Azaña passaria o poder a seu correligionário José Giral, que consentiria em armar os trabalhadores contra o levante da direita.

Rapidamente formaram-se milícias armadas de trabalhadores que derrubaram os golpistas em cerca de metade do país, sobretudo na Catalunha, mas estendendo-se a Castilha León e Madri, além de um foco de resistência em Astúrias. Os militares ocuparam sobretudo Andalucía, Extremadura, Castilha La Mancha e Galícia. As forças populares mantiveram a República. Elas eram formadas por operários armados que ocuparam as ruas com o que tinham às mãos, realizando barricadas em Barcelona, montando barreiras de fogo em Málaga, organizando uma marcha de cinco mil pessoas de Astúrias a Madri para defender a capital.

Sua combatividade, sua capacidade de organização, vinha de pelo menos sete anos de mobilização contínua no país desde a proclamação da República, além do acúmulo organizativo da UGT ou da CNT/FAI. São um exemplo até hoje vivo da capacidade de reação da classe trabalhadora às investidas armadas fascistas. Algo a ser evocado num momento em que a possibilidade de golpe militar está explicitamente colocada pelos golpistas no Brasil desde setembro de 2017.

Infelizmente, as contradições da própria Frente Popular – inclusive a perseguição e expurgo do POUM e da CNT/FAI pelos stalinistas em plena guerra civil – acabariam levando à derrota do movimento revolucionário espanhol e, em sua esteira, à derrota dos próprios republicanos três anos depois. Também algo a ser evocado num momento em que, a pretexto de “combater a barbárie”, a esquerda institucional brasileira clama por um acordo com os ditos “campos democráticos” da direita.

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