No início da ditadura salazarista em Portugal, a reação dos operários foi enérgica, e não fosse a política capituladora da Terceira Internacional, poderia muito bem ter revertido o golpe de estado fascista. Um dos eventos mais notáveis desta resistência da classe operária é a proclamação do Soviete de Marinha Grande.
Um ano após a constituinte do Estado Novo em 1933, uma consolidação do regime fascista iniciado no Golpe de Estado de 28 de maio de 1926, o movimento operário promoveu uma enorme contestação ao regime ditatorial e seus recém implantados sindicatos verticais, um sindicato patronal controlado pela burguesia e o estado fascista, uma invenção de Mussolini. Em janeiro de 1934, o que começou com a preparação desorganizada de uma greve para o dia 18 de janeiro nos centros de Silves, Barreiro e Marinha Grande (cidades costeiras de Portugal), acabou se desdobrando na proclamação de um soviete na Marinha Grande.
Na cidade, os operários declararam greve e saíram às ruas, a coisa foi tomando grandes proporções e logo os operários estavam cortando a comunicação e tomando os principais postos estratégicos da cidade. Liderados pelos operários da indústria vidreira, foi declarada a instauração de um soviete na cidade. Os operários tomaram os correios e prenderam um destacamento da Guarda Nacional Republicana (GRN), uma força militar que operava como força de segurança pública durante o regime salazarista.
A operação foi feita sem derramamento de sangue graças ao planejamento prévio dos operários. A guarda foi rendida e seu comandante teve a família colocada em custódia em uma pensão. Os revoltosos renderam também o chefe da estação de correio, mas segundo algumas fontes este teria pedido para ver sua família em casa e teria aproveitado a oportunidade para avisar o regime da situação.
A repressão foi implacável e veio na madrugada seguinte para dissolver o soviete e perseguir seus organizadores. O Estado Novo português caçou de forma sangrenta os operários, promoveu julgamentos fantoches com penas impiedosas. Muitos foram enviados ao campo do Tarrafal, na Ilha de Santiago em Cabo Verde. Na época, o regime de Salazar enviava os inimigos políticos para terríveis prisões impossíveis de escapar em suas colônias. Até seu encerramento na Revolução dos Cravos em 1974, morreram ao todo 36 presos políticos. Dentre os enviados estava Antônio Guerra, um dos líderes e responsável pela formação do soviete. Ao todo foram 152 enviados para ilha, e dentre eles somente 37 haviam participado do dia 18. Guerra foi condenado a 20 anos de prisão, porém morreu em Tarrafal em 1948.