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16 de agosto de 1869 – brasileiros massacram crianças paraguaias

Há 150 anos, um exército de 20 mil homens comandados pelo Conde d’Eu, reforçado por tropas argentinas comandadas por Luis María Campos, enfrentou uma tropa de 4.000 paraguaios comandados pelo general Bernardino Caballero na cidade de Barrero Grande – atual Eusebio Ayala – a 72 quilômetros de Assunção. Era o fim da Guerra do Paraguai (1865-1870), e o Paraguai praticamente já não mais dispunha de exército. Foram 3.500 crianças para lutar ao lado de 500 soldados profissionais. Praticamente todas foram mortas em campo de batalha ou executadas barbaramente, num episódio chamado pelos paraguaios de Massacre de Acosta Ñu e pelos brasileiros de Batalha do Campo Grande.

Como se sabe, a Guerra do Paraguai se daria entre a Tríplice Aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, que atacara os como estratégia defensiva ante a política de expansão territorial dos próprios gigantes vizinhos. O Paraguai, governado por Solano López havia praticamente erradicado o analfabetismo, investira em indústrias de base e comunicações, passando a constituir potencial concorrente para o nascente Imperialismo Inglês e sobretudo modelo de desenvolvimento autônomo para a região.

A Tríplice Aliança era muito superior econômica e militarmente ao pequeno Paraguai, que no entanto tinha um exército bem treinado e uma população preparada para a guerra. Ao contrário do que se acreditava no início do conflito, a guerra seria dura e sangrenta, acarretando a morte de pelo menos metade, cerca de 300 mil pessoas, da população paraguaia – incluindo 90% dos homens. Uruguaios contariam com 10 mil mortos, argentinos com 30 mil e brasileiros com nada menos que 100 mil mortos. Em meio a tantas perdas repletas de episódios violentos e tristes – incluindo a decapitação de Solano López em campo, pondo fim ao conflito – destaca-se por sua brutalidade o Massacre de Acosta Ñu.

Em 1969, o exército paraguaio já batia em retirada, e Assunção, capital do país, já estava ocupada pelos aliados. O comandante Luís Alves de Lima e Silva – o duque de Caxias – acreditava que a guerra estava encerrada e retirou-se. O imperador D. Pedro II insistiria em manter a ofensiva até a rendição formal ou morte de Solano López, mantendo as forças brasileiras em combate sob comando do príncipe francês e seu genro, Louis Philippe Ferdinand Gaston d’Orléans, o Conde d’Eu. No Paraguai, por sua vez, as escolas estavam, fechadas desde o início da guerra e o exército fora quase que completamente aniquilado – sobretudo a partir da Dezembrada de 1868. Em 14 de fevereiro do ano seguinte, o marechal López recruta jovens, crianças e idosos para recompor suas fileiras. Se foi um ato de desespero, por um lado, por outro não foi isolado: em dado momento do conflito, todos os países nele envolvidos já haviam recrutado crianças – embora não na mesma escala que o Paraguai.

O Massacre de Acosta Ñu (Campo de Acosta) foi a última grande batalha da guerra. As tropas aliadas alcançaram as tropas de López, em retirada para Caraguatay, na cidade de Barrero Grande. Os brasileiros eram comandados pelo general José Luís Mena Barreto. Para garantir a retirada do exército, o general paraguaio Caballero abriu linha de combate comandada pelo coronel Moreno e pelo comandante Franco para a retaguarda com dois canhões, comandados , dando combate a nove batalhões inteiros fortemente armados. Às 8h da manhã começou o combate, com as tropas brasileiras dando fogo e cargas de cavalaria sem trégua. A artilharia dos aliados não logrou derrubar a ponte sobre o arroio do Juqueri, que Caballero conseguiria cruzar com suas tropas, ainda em ligeira vantagem em sua manobra evasiva.

As numerosíssimas forças brasileiras, porém, lograram dar a volta aos paraguaios, atacando-os pela retaguarda. A divisão de veteranos comandada por Franco já sucumbira, restando somente as crianças. Segundo o jornalista e historiador Júlio José Chiavenatto, em seu livro O genocídio americano (Ed. Brasiliense, 1979) assim relata o que se seguiria: “as crianças de seis a oito anos, apavoradas, agarravam-se às pernas dos soldados brasileiros, chorando, pedindo que não as matassem. E eram degoladas no ato”. Se a direta brasileira não hesita em tratar a narrativa de Chiavenato por “revisionista”, o mesmo não se pode dizer daquela feita pelo Visconde de Taunay em suas Recordações de guerra e viagem, presente no local, a respeito dos momentos finais, quando ainda queimava o capim alto:

Aqueles mal-aventurados, caídos no cumprimento do áspero dever, vendo o incêndio vir ao encontro dos seus pobres corpos exangues ou com os membros quebrados, cercá-los de todos os lados, empolgá-los, abafá-los em rolos de espesso fogo, sufocá-los, já martirizados, por medonha sede ou então queimá-los aos poucos em vida! Quantas dores inenarráveis, desconhecidas até chegar o apaziguamento da morte, do nirvana, nesses tremendos e derradeiros transes, tão suspirado com fecho de todas as dores físicas e morais.

Vi – ninguém me contou – um paraguaiozinho vinha gritar para um companheiro ferido também, mas de pé: “Amigo, mate-me por favor!” E o outro acudindo à cruel imploração, desfechou-lhe um tiro à queima-roupa.

Praticamente todos os oficiais de destaque nesse triste combate se tornariam influentes políticos: tanto o general Caballero, que fundaria o Partido Colorado no Paraguai, quanto Manoel Deodoro da Fonseca, do lado brasileiro, que seria o marechal a proclamar nossa república. Nosso pintor cívico maior, Pedro Américo, pintaria um quadro da batalha em que tombam paraguaios adultos e parrudos. Os paraguaios até hoje lamentam aquelas vítimas da guerra comemorando o Dia da criança em 16 de agosto.

 

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