No dia 16 de julho de 1976 aconteceu o massacre de Soweto na África do Sul, em que centenas de pessoas foram assassinadas durante protestos contra a ditadura do Apartheid. Os estudantes se levantavam contra a nova medida de repressão que impunha a língua Afrikaans, que apesar do nome é europeia, como o idioma oficial das escolas substituindo as línguas nativas da cidade de Soweto como o Zulu, o Tsoto e o Tswana. Apesar de governo afirmar que houve apenas 23 mortes as estimativas vão de 126 até 700 pessoas que perderam suas vidas.
A África do Sul foi um dos poucos países do continente que sofreu um processo de colonização de povoamento, mais semelhante àquele dos EUA do que o do Brasil. Primeiro os Holandeses e depois os Ingleses saquearam as terras das populações nativas e se estabeleceram lá, por isso até os dias de hoje é o país com a maior população branca da África, que mesmo assim compõe apenas 8,7% do total. Mesmo sendo uma pequena minoria essa população controlava completamente o país explorando e oprimindo totalmente a população negra nativa.
Após a independência da Inglaterra em 1910 realizada pela elite branca local a opressão dos negros não diminuiu, pode-se dizer que até aumentou visto que em 1948 se iniciou oficialmente o regime do Apartheid em que a segregação racial foi estabelecida como lei. Enquanto a população branca vivia em uma pequena suíça dentro da África a maior parte da população vivia em extrema miséria, foram criados guetos oficiais para a população negra chamados de Bantustões enquanto os brancos viviam nas melhores cidades e possuíam as melhores terras.
Não só isso como esse regime fascista se tornou a base de apoio do imperialismo na África que lutava contra os movimentos de libertação de vários países. O caso mais emblemático foi quando os exércitos sul africanos invadiram Angola em 1975 após sua libertação de Portugal, o MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola, que havia conquista o poder pediu ajuda a Cuba. A população, afro cubana em maioria, numa real demonstração de internacionalismo proletário formou batalhões e foi para Angola levando a primeira derrota ao exército imperialista invasor que começou a recuar a partir desse momento.
Foi nessa conjuntura de ebulição, poucos anos após a independência de países fronteiriços como Angola e Moçambique e durante a guerra pela independência ainda do Zimbabwe, que também tinha um regime de Apartheid, que os estudantes se levantaram em Soweto na região metropolitana da rica cidade de Johanesburgo. O Afrikaans era a identificada com o regime do apartheid e estava sendo imposta desde 1975, por isso os estudantes da escola Orlando West entraram em greve, o movimento foi se espalhando e no dia 13 de junho o comitê de ação que havia se formado convocou uma grande mobilização para o dia 16.
Nesse dia 20 mil estudantes negros marcharam em protesto em direção ao Estádio Orlando, a polícia fez de tudo para impedir o protesto com um grande aparato de repressão. Após algum alvoroço durante o ato os policiais começaram a atirar nas crianças matando várias logo no princípio, a partir desse momento a cidade inteira entrou em uma mobilização radical que não teve capacidade de resistir aos fuzis das forças de repressão, centenas morreram ao longo do dia. A perseguição foi tão intensa que não contentes em matar o povo os policiais invadiram hospitais tentando criminalizar todos com ferimentos de bala para que caso se recuperassem ainda pudessem ser punidos.
A partir do dia 17 às mobilizações se espalharam por todo o país com a adesão de estudantes brancos e também dos trabalhadores negros que realizaram diversas greves, a repressão foi intensa em todo o período e mais algumas centenas de pessoas foram assassinadas até o fim do ano, que teve muitas mobilizações. O Congresso Nacional Africano, partido de Nelson Mandela (ainda preso), ganhou cada vez mais força a partir desse momento e o Apartheid entrou em seu período de crise, mas ainda demorou quase 20 anos para de fato acabar.
Esses acontecimentos reverberaram no mundo inteiro, tornando famosa a foto do corpo de Hector Pieterson, um garoto de 13 anos, assassinado pela polícia sendo carregado por um companheiro. Apesar da data marcar atualmente o “dia da juventude” no país, na verdade é um dia da luta da juventude e do povo negro, não só da África do sul como de todo o mundo, contra a opressão capitalista.