Aos 15 dias do mês de novembro de 1889 o marechal Deodoro da Fonseca – até a véspera um monarquista – saiu de sua residência ao amanhecer, atravessou o Campo de Santana, convocou soldados a se rebelarem contra o governo. Dentro de pouco tempo, os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e o Ministério da Guerra, depuseram o Gabinete Ministerial e prenderam Afonso Celso de Assis Figueiredo (Visconde de Ouro Preto), presidente do gabinete.
O Visconde de Ouro Preto havia tentado reagir, pedindo ao comandante do destacamento local e responsável pela segurança do Paço Imperial, o general Floriano Peixoto, que enfrentasse o motim. Ele disse a Floriano que no local havia tropas legalistas em número suficiente para derrotar o levante que estava a ocorrer e também argumentou que o general havia enfrentado tropas muito mais numerosas na Guerra do Paraguai. Entretanto, o visconde ouve a resposta: “Sim, mas lá (no Paraguai) tínhamos em frente inimigos e aqui somos todos brasileiros!”. Aderindo ao movimento republicano, Floriano Peixoto deu voz de prisão ao chefe de governo Visconde de Ouro Preto.
Na tarde do mesmo dia 15, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, proclamava-se a República no Brasil, episódio que que destituiu o imperador Dom Pedro II, deu fim a monarquia constitucional parlamentarista e instaurou a forma republicana presidencialista de governo. Iniciava-se a Primeira República Brasileira. Estava realizado, dessa forma, o primeiro de muitos golpes militares em terras brasileiras. Embora tenha sido um golpe militar, o evento, com todas as suas contradições, teve um significado progressista.
Pode-se dizer que, no momento em que se deu a proclamação, a monarquia já estava desagradando a gregos e troianos. Vários fatores levaram a queda do Império. Vejamos.
Da parte dos grupos progressistas, havia a crítica que a monarquia mantivera, até muito tarde, a escravidão no país. Os progressistas criticavam, também, a ausência de iniciativas com vistas ao desenvolvimento econômico, político e social do país, a manutenção de um regime político de castas e voto censitário, isto é, que se baseava na renda anual das pessoas, a inexistência de um sistema de ensino universal, os altos índices de analfabetismo e miséria.
Já os reacionários latifundiários acabam por aderir às vésperas da proclamação, insatisfeitos com a abolição da escravatura sem indenização aos proprietários de escravos. De certa forma, pode-se considerar, portanto, que a monarquia estava a desagradar tanto a esquerda, quanto a direita, por sua política centrista. Entretanto, é importante enfatizar que antes que a proclamação ocorresse, houve intenso trabalho da esquerda nesse sentido, como veremos.
Outro fator importante foi a Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai, que agravou a crise econômica, devido às elevadas despesas geradas pelo conflito bélico, que foram cobertas por capital externo. Além da deterioração das condições econômicas, a guerra cumpriu a função de difundir os ideais republicanos, evidenciou aos militares essa desvalorização da carreira profissional, que se manteve e mesmo acentuou-se após o fim da guerra.
A partir disso, começou a desenvolver-se, tanto entre os militares de carreira quanto entre os civis convocados para lutar no conflito, um interesse maior pelo ideal republicano e pelo desenvolvimento econômico e social brasileiro. Se inicia, dessa forma, um movimento que realiza intenso trabalho de propaganda e agitação, é publicado o Manifesto Republicano em 1870, surgem clubes republicanos nos principais centros do país.
Nesse sentido, pode-se atribuir ao acontecimento histórico do golpe militar da Proclamação da República, um significado progressista, ainda que tenha sido um golpe.