Num período de 15 dias, a partir da metade do mês de janeiro, 140 pessoas foram resgatadas durante uma operação contra o trabalho escravo realizada em 23 estados. O número, que à primeira vista pode parecer impressionante, representa apenas um pequeno recorte dum fato ainda presente na realidade brasileira. Dos vários casos de trabalho análogo à escravidão encontrados nesse início de ano, dois merecem destaque: as vítimas, além de não receberem qualquer pagamento por parte dos seus patrões, ainda viviam em condições insalubres e não viam o valor do auxílio emergencial, que ficava nas mãos dos seus empregadores. Apesar de todas essas provas, eles responderão em liberdade o processo.
Dados oficiais, do Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil, dão conta de que em 2020, 942 pessoas foram encontradas em condições análogas à escravidão. Não surpreende, na visualização do mapa disponível no site, que as maiores ocorrências se deem em estados como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Piauí e Maranhão. Mais à frente explicaremos o motivo.
De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aproximadamente 40 milhões de pessoas são vítimas do trabalho escravo no mundo inteiro, sendo que um quarto delas se encontra na infância.
Retornando à nossa análise sobre o Brasil, podemos compreender a força atual do trabalho escravo não apenas na herança cultural de um país que demorou a dar a ‘‘liberdade” à população negra, mas especialmente, nas práticas seculares da burguesia que aqui se formou. Também cabe destacar que o aprofundamento do golpe tem demonstrado, cada vez mais, o papel de setores reacionários alinhados ao imperialismo, mais especificamente, o agronegócio.
O agronegócio, setor golpista que recebe há décadas uma série de incentivos fiscais e bancários, principal responsável pela expulsão e assassinatos de trabalhadores rurais, quilombolas e indígenas, além da destruição de diversos biomas no território nacional, é também o setor no qual mais se encontram situações análogas à escravidão. Tudo isso faz parte de uma construção política – baseada na violência, e que se encaixa perfeitamente com o governo genocida de Jair Bolsonaro.
Por isso, não surpreende que estados como Goiás, Mato Grosso do Sul, quase todo o MATOPIBA (à exceção de Tocantins), estejam entre os estados com maior volume de trabalho escravo detectado. Tratam-se de novas áreas de expansão do modelo agrário responsável pela produção de commodities (produtos de baixo valor agregado), como o milho e, especialmente, a soja, principal produto de exportação do país.
Cabe destacar que, muitos dos empregadores que utilizam mão de obra escravizada não possuem conexões apenas com a bancada ruralista ou o governo Bolsonaro, mas possuem conexões estreitas com governos estaduais, independente de se colocarem de ‘‘centro” (denominação da direita golpista recauchutada) ou ‘‘progressistas”.
Por fim, reiteramos que essa indigna faceta presente no Brasil só poderá ter fim com a derrubada de Bolsonaro, com o fim do latifúndio assassino e escravista, com uma ampla política agrária de distribuição de terras e suporte técnico aos trabalhadores rurais, com uma política de geração de empregos que contemple toda a população desempregada, e a consequente retomada de todos os direitos dos trabalhadores!