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Funcionário dos monopólios

100 dias de governo Biden: um presidente progressista?

Presidente norte-americano é o homem que o imperialismo precisava: sem escrúpulos, identitário e, ao mesmo tempo, disposto a salvar os bancos a todo custo diante da crise econômica

Em texto intitulado “O que muda nos EUA nos 100 dias do governo Biden?”, reproduzido pelo Brasil 247, Lejeune Mirhan, articulista ligado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), pintou o governo norte-americano como uma das maiores maravilhas do mundo moderno. O artigo, repleto de adjetivos exagerados — “estou profundamente surpreso”, “apoiador da ciência” etc. — chega ao ponto de apresentar o democrata Joe Biden como um dos cinco maiores presidentes da história dos Estados Unidos!

“Quero lhes apresentar aqui dentre os 46 presidentes dos EUA, de acordo com os meus critérios e análises, os quatro melhores. Eu estudo os presidentes dos EUA desde Roosevelt que venceu sua primeira eleição em 1932. Eu estabeleci uma ordem dos quatro melhores. (…) Eu digo, sem medo de errar, que Joe Biden está disputando para entrar neste bloco dos quatro melhores. Provavelmente desalojando Wilson ou Carter. Atentem que gente do calibre de Clinton e Obama não figuram nessa seleta lista”. Só o vice de Obama. Mas Mirham tem uma lista volúvel. Em 2008 ele disse que a eleição de Obama foi “Foi a vitória do voluntariado, das doações e contribuições de pequeno porte, dos movimentos sociais. Enfim, uma significativa vitória histórica”. É de dar lágrimas nos olhos de qualquer um!

Os elogios de Lejeune Mirhan partem da seguinte tese apresentada por ele próprio:

“Antes de seguir na análise deste pequeno ensaio, quero deixar claro uma concepção que venho expressando já há algum tempo. Trata-se de afastar a visão – equivocada de meu ponto de vista – que tanto Trump quanto Biden são a mesma coisa. Nada mudará pois ‘são farinha do mesmo saco’. A mesma ‘porcaria’ como já ouvi diversas vezes. Não estou de acordo com essa visão, profundamente antidialética”.

Falar que Trump e Biden são a mesma coisa é, num sentido, antidialético. Dizer que a diferença é que Trump é um monstro e Biden um grande homem público, no entanto, também não é dialética. Seria mais apropriado dizer que é o mais puro cretinismo oportunista ou severa deficiência cognitiva.

Em resumo, Mirhan tem a mesma posição que outros setores da esquerda pequeno-burguesa menos desinibidos já apresentaram abertamente: Trump seria um fascista e Biden a sua antítese, um raio em céu azul, um homem comprometido com a democracia, com os direitos humanos, com os direitos trabalhistas e com tudo o que é de interesse da população.

Que há diferenças entre o ex-presidente Donald Trump e o atual presidente Joe Biden, obviamente que há, como não há nada que seja exatamente igual a outra coisa. Donald Trump é a principal liderança da extrema-direita norte-americana, e representa um setor minoritário da burguesia de seu país. Joe Biden, por sua vez, é um funcionário de longa carreira do Estado norte-americano e representa os setores mais importantes da burguesia de seu país. No entanto, analisadas essas diferenças, podemos concluir que há uma convergência muito clara: ambos são políticos da burguesia e, portanto, são inimigos dos trabalhadores.

E o erro de Lejeune Mirhan está justamente aí: em ignorar aquilo em que Trump e Biden convergem e aquilo em que ambos divergem. A oposição entre Biden e Trump é, na verdade, a oposição entre um setor da burguesia e outro setor. Ou, dito de outro modo, entre um grande predador contra um predador menor, mas que estão ambos disputando o controle do Estado para garantir que a crise capitalista seja descontada nas contas dos trabalhadores.

Biden não é, portanto, uma reação à esquerda ao governo Trump, mas sim uma reação, que, em vários sentidos, como a política externa, está à direita de Trump. E é neste sentido que as medidas que estão sendo implementadas por seu governo devem ser analisadas. Biden assumiu o governo norte-americano em meio a uma crise sem precedentes, tendo como principal missão restabelecer a política neoliberal em sua essência, que havia ficado comprometida com o governo Trump.

Trump, embora seja um fascista, se mostrou uma pedra no sapato do neoliberalismo, na medida em que é apoiado por um amplo movimento que demanda por questões reais, que não podem ser resolvidas, nem mesmo de maneira demagógica, sem um choque com a doutrina neoliberal.

É fato que Joe Biden propôs um plano de infraestrutura de mais de U$2 trilhões. Uma gastança impressionante, nunca vista nem mesmo nos governos brasileiros mais progressistas, nem nos governos norte-americanos anteriores. No entanto, é preciso levantar a questão: o pacote demonstra uma mudança na política do imperialismo? Não, muito pelo contrário.

A gastança é uma resposta a uma situação muito específica: a crise econômica mundial, completamente descontrolada, beirando o colapso. E é um pacote de investimento muito maior que o do governo Obama, por exemplo, porque a crise hoje é muito maior que a crise em 2008, agravada pela pandemia. É uma manobra, portanto, que tem como fim conter a crise social social crescente e a própria destruição da economia interna norte-americana, que, por sua vez, são resultado da política neoliberal.

A prova de que não se trata de uma reversão da política neoliberal, mas sim de um pequeno recuo consentido pelos capitalistas é que Biden está sendo apoiado pelos próprios capitalistas. A revista The Economist, uma das principais porta-vozes dos monopólios, se colocou a favor do pacote. Se houvesse uma mudança real de política, se, em uma situação de grande crise, o governo Biden decidisse gastar todo o dinheiro que deveria ir para os bancos, isso causaria uma crise enorme no regime político.

Vale lembrar, inclusive, que, nos cem primeiros dias de Biden, bilionários como Jeff Bezos, da Amazon, Mark Zuckerberg, do Facebook, e Elon Musk, da Tesla, ficaram ainda mais ricos…

É preciso considerar, ainda, que Biden anunciou o pacote somente para esse momento, em que a crise social é muito grave. Contudo, ao que tudo indica, a crise econômica continuará, pois não se trata somente da crise de demanda causada pela pandemia, mas sim do aprofundamento de uma crise que vem de 10 anos. Nada garante que haverá um novo pacote econômico quando esse se esgotar.

Outro problema importante, que o articulista que atua no Brasil deveria levar em conta, é que essa gastança só é possível porque, em uma situação de crise, os países imperialistas intensificam a exploração sobre os países atrasados. É o Brasil e todos os países atrasados que pagarão, no fim das contas, a fatura dessa manobra superficial e temporária de Biden.

Quanto aos direitos democráticos, Biden não é nenhum “salvador”. Ele foi um dos organizadores da guerra do Iraque e apoiou todas as medidas antidemocráticas após o atentado de onze de setembro, além de ter sido o autor de uma lei que encarcerou milhares de negros e latinos. É um homem conhecido da repressão e da espionagem norte-americana. Do Biden do passado para o Biden de hoje, não há diferença. O atual presidente já apresentou uma lei contra o “terrorismo doméstico” que acabaria com a presunção de inocência, com a inadmissibilidade de provas adquiridas por meios ilícitos, com o direito à ampla defesa, entre outros direitos democráticos. Ao mesmo tempo, Biden já voltou a bombardear países como a Síria, tão somente a mando das petroleiras e da indústria armamentista.

A política externa de Biden é um dos aspectos mais criminosos de seu governo. Como o governo de Trump, pressionado por sua base e pelas contradições do regime, realizou inúmeros cortes na área militar, Biden agora corre atrás do tempo perdido e está colocando as máquinas de guerra do imperialismo para funcionar em velocidade máxima. Embora os governos neoliberais sejam marcados por cortes, esses governos também são marcados pelos gastos com a repressão. Seja com a polícia, seja com a guerra.

No fim das contas, mesmo que Biden esteja promovendo uma maior gastança por problemas conjunturais, ele não está propondo nenhuma mudança real na saúde, na educação, no sistema prisional. Não irá acabar com a máfia dos planos de saúde e estabelecer uma saúde gratuita de qualidade, nem porá fim ao ensino privado, muito menos acabará com a polícia e o aparato de repressão.

As ideias de Lejeune Mirhan sobre o governo Biden não são senão a expressão de um universo paralelo ao mundo real, o delírio da pequena burguesia, que, histérica, dorme abraçada com seus piores inimigos na esperança que os proteja dos males que eles mesmos causam.

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