100 anos do fim da I Guerra Mundial . parte I

No dia 11 de novembro de 1918, é assinado o Armistício de Compiègne, entre os países da Tríplice Entente ( França, Inglaterra e Estados Unidos; A Rússia tinha saído da guerra antes, no Tratado Brest Litovski) e o Império Alemão ( líder dos países centrais Império Austro-húngaro, Bulgária e Império Turco). Essa data simbolicamente representa o fim da chamada Grande Guerra, posteriormente denominada I Guerra Mundial.

A I Guerra foi travada em escala mundial com participantes de todos os continentes, tendo como palco principal o continente europeu. Foi a primeira guerra moderna, com farto uso da tecnologia, uso de aviões, navios, metralhadoras, tanques e armas  químicas, que produziu uma monstruosa mortandade e uma estrondosa destruição em massa.

Antes da deflagração da guerra, o continente europeu vivia um período intenso e frenético, conhecido como Belle Époque, “ um Vibrante hino de louvor ao progresso”  que se imaginava que o desenvolvimento capitalista seria um progresso ininterrupto e continuo, apesar dos fartos sinais da crise eminente.

Como assinala Ian  Kershaw em De volta do inferno. Europa, 1914-1949  “ era difícil imaginar que a prosperidade, a paz e a estabilidade não prosseguiriam indefinidamente, podendo ser varridas tão cedo e com tanta rapidez. “ p.29

A internacionalização da Economia capitalista, entrelaçando os interesses dos Estados imperialistas com a expansão de capitais acentuava a contenda entre as potências imperialistas. Uma acirrada disputa por colônias, mercados, matérias primas e posições estratégicas.

Essa guerra foi realizada após um período de Paz Armada, o último grande conflito na Europa foi a guerra Franco- prussiana em 1870-71, que foi um acontecimento marcante  para a consolidação da Alemanha como país unificado, sob a estratégia traçada  pelo chanceler Alemão Otto Bismarck. A chegada tardia da Alemanha como grande potência mundial será um dos fatores que levará ao acirramento pela disputa da divisão do mundo entre os grandes centros imperialistas.

A Inglaterra ainda detinha a maior parcela do comércio mundial, com a França com uma posição de destaque, entre outros países imperialistas menores,  que evidentemente não estavam dispostas abrir mão das suas posições diante da emergência de uma nova potência. Wladimir Lênin, revolucionário russo, assinalou em Imperialismo, etapa superior do capitalismo e na falência da II Internacional, de maneira muito apropriadamente, que a I Guerra Mundial era expressão da fase imperialista do capitalismo.

Não era somente um conflito entre diferentes países ou entre nacionalismos, mas no interior dos países aconteciam profundas mudanças, que acarretavam uma formidável pressão sobre o capitalismo no seu conjunto e nos regimes políticos tradicionais, controlados pela burguesia conservadora, e em alguns casos por classes e camadas ainda mais atrasadas, como latifundiários e grupos aristocráticos, como nas monarquias ainda existentes. O exemplo do Czar russo foi o mais proeminente, mas não o único.

“ o tecido social estava mudando depressa, embora de modo bastante desigual, de uma lado a outro do continente. Regiões de industrialização intensa e rápida coexistiam com grandes faixas que ainda eram essencial e primitivamente agrícolas.” (KERSHAW, idem, p.29)

Sendo que uma questão relevante no início do século XX,  foi o desenvolvimento do movimento operário, dos partidos socialistas e do movimento sindical como elementos de instabilidade social e política.  “ a mudança política fundamental, que as elites em todos os países encaram como uma ameaça real, foi a ascensão dos partidos políticos da classe trabalhadora e dos sindicatos profissionais. A segunda internacional foi instituída em 1889.” (KERSHAW, idem, p.31).

O Impulso irreversível para a guerra era o conturbado cenário europeu, com a proliferação de reivindicações nacionalistas e disputa estratégica entre os países. A Paz Armada era um verdadeiro barril de pólvora, costurado por uma intricada Política de Alianças, que configurava um confuso jogo de interesses regionais e internacionais, envolvendo conflitos e dominações sobre territórios e povos.

O surgimento da Alemanha como grande potência e a busca do seu “ espaço vital”, despertava o temor da Inglaterra em perder a sua supremacia naval e poderio hegemônico mundial, bem como as aspirações e revanchismo Francês diante da Alemanha( especial pela perda das regiões de Alsácia e Lorena). Juntava-se a isso  a desagregação do império Austro Húngaro, com crescimento do pan-eslavismo ( com patrocínio Russo) em apoio as reivindicações da Sérvia.

Os diferentes povos da região, os interesses das nações imperialistas , os conflitos contra o Império Turco  e a desagregação do Império Austro Húngaro, a partir da análise das guerras nos Balcãs foram avaliadas por Leon Trosky, no livro Les Guerres Balkaniques, 1912-1913.

Por sinal, a controversa questão balcânica, foi o estopim para a eclosão da guerra em 1914. Em 28 de julho de 1914, acontece o assassinato do arquiduque Francisco Fernando da Áustria, o herdeiro do Império Austro-húngaro , por  Gavrilo Princip , em Sarajevo, na Bósnia. A organização Mão Negra ligada a Servia foi acusada pelo atentado, o que precipitou o ultimato e  a posterior invasão da Servia pelo Império Austro-húngaro, que contou com o respaldo alemão.

O equilíbrio instável entre as nações, o sistema de alianças, as rivalidades, os interesses geopolíticos e econômico dos países imperialistas transformou o Conflito balcânico na Bósnia Herzegovina  em uma guerra mundial. Os acontecimentos se precipitaram, a Rússia apoiou a Servia, e os alemães apoiaram o Império Austro-húngaro, e como a França era aliada da Rússia, foi invadida pelas tropas alemãs, que através de uma manobra militar invadiu a Bélgica para surpreender os franceses, aproximando-se de Paris, o que por sua vez provocou a entrada da Inglaterra . O Império Turco entrou na guerra do lado alemão.

Os movimentos iniciais eram marcados pela necessidade imperiosa da ofensiva, apresentada com disfarce de que estava sendo travada uma guerra defensiva. A  disposição era  arriscar-se à guerra com a  noção compartilhada por todos os beligerantes, que a guerra seria breve, e que no “ natal as coisas já estariam resolvidas”  Entretanto, longe disso, a “ guerra contra todas as guerras” , na “ guerra veloz” se transformou em uma longa e cruel guerra de atrito- trincheiras.

No início, em cada país, a guerra era promovida por uma ampla e intensa campanha patriótica, em que a imprensa jogava um papel decisivo, na propaganda política. Os valores guerreiros e nacionais eram exaltados, enquanto os adversários eram apresentados como monstros cruéis, em inimigos que precisavam ser abatidos.

Assim, a imprensa alemã justificava o apoio a guerra, apresentando a “ Cultura” ocidental contra a barbárie russa, a frivolidade francesa e materialismo inglês. Os Francês fomentavam o revanchismo contra os usurpadores germânicos. Os inglês lutavam contra o autoritarismo alemão que violava os direitos das nações invadindo a neutra Bélgica, e os russos defendiam o pan-eslavismo.

Neste começo, a guerra era recebida com uma exaltação festiva, com os soldados sendo saudados como heróis nacionais, com musicas patrióticas sendo entonadas nas partidas para as frentes de batalhas.

Entretanto, essa atmosfera foi sendo substituída na medida em que os desastres e a grande carnificina da guerra foi sendo desvelados, e as esperanças de guerra rápida foi sendo dissipadas no desenrolar do abismo da guerra.

Como destaca Niall Ferguson  no  livro O horror da guerra, a ideia que a guerra seria uma expressão dos valores superiores será substituída pela noção de que a continuidade da guerra era um “ absurdo grotesco”.

Os ataques de gás, a morte de soldados como moscas por armas cada vez mais destrutivas e o cotidiano apavorante e cruel das trincheiras marcaram a geração que viveu e morreu na I Guerra Mundial.

Na segunda parte vamos abordar os desdobramentos da I Guerra, o impacto na reconfiguração do mundo, com o colapso de impérios, aprofundamento da crise capitalista e a realização de acontecimentos revolucionários como a Revolução Russa.

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