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10 anos do golpe militar em Honduras, o primeiro aviso

Em 28 de junho de 2009, o presidente hondurenho Manuel Zelaya era derrubado por um golpe de Estado “clássico”, orquestrado diretamente pela polícia e pelo exército e dirigido pelo imperialismo norte-americano – embora, no senso comum, tenha-se considerado aquele golpe como um golpe “brando”.

De um “caudilho”, oriundo das oligarquias de seu país, Zelaya, movido pelas circunstâncias, foi tomando posições cada vez mais nacionalistas e esquerdistas após chegar ao poder, em 2006. Em entrevista em 2017 à Rádio Sputnik Mundo, ele fez importantes revelações acerca do controle do imperialismo sobre seu país:

“Qual foi o primeiro pedido aqui em Honduras [do governo dos EUA ao presidente recém-eleito]? Que nomeasse o gabinete de governo que eles tinham desenhado na embaixada. […] Isso, sem papas na língua. Me disseram: ‘Aqui está a lista de pessoas que você vai nomear em seu gabinete, para que a analise’.”

Tentou implementar um governo de conciliação entre os capitalistas e latifundiários, por um lado, e os sindicatos e camponeses, por outro.

Na mesma entrevista, Zelaya fez outra revelação sobre o funcionamento do poder dos monopólios na América Latina:

Então um amigo que estava presidindo as companhias petroleiras em Honduras me disse a verdade: ‘Nem um centavo presidente! É nosso dinheiro, nos custou muitos anos para obtê-lo em nossas companhias transnacionais. Corresponde a concessões, a contratos que temos feito e nem um centavo vamos ceder ao governo.’ Eu os explicava que esses lucros eram fruto de preços indevidos, que suas atividades econômicas  não respeitavam nem sequer as regras do sistema capitalista. E lhes disse: ‘Vocês estão aqui com políticas econômicas fraudulentas, com monopólios, pondo preços injustos, sacrificando este país. Como é que não podemos fazer um acordo?’ Eles me apoiaram para chegar a presidente, mas quando cheguei queriam que fosse seu mordomo, seu operador, queriam que lhes autorizassem absolutamente tudo.”

Quando Zelaya, devido à pressão popular, e atendendo às exigências de certos setores da frágil burguesia nacional hondurenha, mexeu com os interesses das petroleiras internacionais ao se juntar à Petrocaribe e dos bancos ao se unir à ALBA, o sinal vermelho foi tocado para os imperialistas. Além de serem medidas que prejudicavam os monopólios estrangeiros em Honduras ao favorecer o capital nacional, elas significavam uma maior integração com os países latino-americanos, principalmente com aqueles com governos nacionalistas e de esquerda, como Cuba, Venezuela, Equador e Bolívia. A Petrocaribe e a ALBA são organismos criados a partir da iniciativa de Hugo Chávez e sempre foram boicotados pelo imperialismo e seus lacaios na região.

Finalmente, em 28 de junho de 2009, nada menos do que 250 militares invadiram a casa de Zelaya, sem mandado de busca. Dez comandos de soldados aterrissaram de helicópteros, com uniformes de combate e encapuzados. Sequestraram o presidente e o levaram para uma base militar ocupada pelos Estados Unidos, e depois o expulsaram do país, deixando-o na Costa Rica ainda de pijamas.

Os civis assumiram o governo, tutelados pelos militares entreguistas, e, no Congresso hondurenho, disseram que Zelaya havia assinado a renúncia, coisa que nunca o fez.

O golpe foi denunciado pelos governos de esquerda, mas, aos poucos, a situação política internacional foi se normalizando para o regime golpista hondurenho, uma vez que contava com total apoio dos EUA. Honduras, um dos países que mais sofreram historicamente com o domínio dos EUA na América Central, voltou a ser uma colônia norte-americana.

Washington utilizou o território hondurenho para treinamento militar de suas tropas na região, um local estratégico para iniciar operações imperialistas sobre toda a América Latina. A presença militar e policial norte-americana aumentou exponencialmente desde então, as forças de repressão de Honduras, hoje, são comandadas, de fato, pelo Pentágono.

Honduras se transformou em uma ditadura. Os movimentos populares da cidade e do campo têm sido brutalmente reprimidos, a violência policial não poupa a população e os ativistas políticos e de direitos humanos são simplesmente dizimados.

Dados recentes dão conta de que 60% dos hondurenhos são pobres e 23% das crianças são subnutridas. O imperialismo tenta esconder a situação miserável do país fabricando um crescimento econômico artificial e elogiando seu regime capacho por fazer de Honduras uma das economias mais dinâmicas da América Latina.

No entanto, a crise que estourou quando se viu mais de 10 mil migrantes cruzando a América Central para tentar acesso aos EUA no ano passado escancarou o tamanho da pauperização vivida em Honduras: 85% dessas pessoas eram provenientes do país saqueado pelo imperialismo.

O golpe de 2009 em Honduras foi o primeiro de uma onda golpista na América Latina. Ocorreu logo após à explosão da crise capitalista de 2008 e foi uma consequência imediata dela. Os grandes bancos e monopólios imperialistas perceberam que deveriam salvar seus lucros simplesmente por meio do saque aos países atrasados. Isso só seria possível através de uma política de força, impondo o modelo neoliberal com características cada vez mais fascistas. Os governos nacionalistas eram um empecilho e deveriam ser derrubados para que essa política fosse implementada integralmente.

Assim, sucederam-se ao golpe em Honduras as derrubadas de Fernando Lugo no Paraguai (2012), do kirchnerismo na Argentina através de eleições fraudulentas (2015), de Dilma Rousseff no Brasil (2016), do “correísmo” no Equador com a traição de Lenín Moreno (2017) e as tentativas até agora fracassadas de golpe ou mesmo invasão da Venezuela, Bolívia e Nicarágua. Mesmo países com governos de direita têm sido alvo de intensa desestabilização pelo imperialismo, como é o caso do Peru e da Guatemala.

A oposição nacionalista hondurenha, expressando a política da esquerda pequeno-burguesa tanto nos outros países da região que sofreram golpes como historicamente em todo o mundo, apostou na via institucional para derrotar a ditadura. Foi um fracasso total.

Juan Orlando Hernández, o presidente de extrema-direita que assumiu após eleições farsescas em 2013, foi reeleito em um pleito ainda mais fraudulento em 2017. O candidato de Zelaya, Salvador Nasrallah (um apresentador de TV à direita do próprio Zelaya), vencia na contagem de votos quando a justiça eleitoral – totalmente controlada pelos golpistas – parou de contar e, quando a apuração voltou, milagrosamente Hernández estava na frente!

Nos dias seguintes, grandes revoltas tomaram as ruas de Tegucigalpa e das principais cidades do país, mas em protestos desorganizados, embora radicais.

Agora, há exatos dez anos do golpe, ocorrem novos protestos, também radicais e também desorganizados em Honduras. São a expressão clara do total repúdio popular contra a ditadura golpista e sua política de devastação nacional.

O que ocorre hoje em Honduras é uma tendência para toda a região. Nos outros países onde houve golpes, os regimes não estabeleceram um controle absoluto como gostariam. O neoliberalismo é insustentável, seja econômica ou socialmente. O povo não admite tamanha exploração e humilhação. No Brasil, vemos cada vez mais gritos pelo Fora Bolsonaro. Na Argentina, o povo odeia Macri e a prova disso é o apoio à Cristina Kirchner. No Equador, Moreno tem que recorrer à repressão policial e às prisões políticas para conter a insatisfação das massas.

A ilusão de que as instituições controladas pelos golpistas derrotarão os golpes deve ser quebrada. Honduras vive há dez anos sob uma ditadura e é o maior exemplo disso. A esquerda e o povo não têm conquistado nada através das instituições. Os únicos momentos em que o regime golpista foi colacado em xeque foram quando as massas saíram às ruas em revolta. O papel da esquerda, em Honduras e nos outros países, é organizar essa revolta. Pela derrubada dos regimes golpistas e pela expulsão do imperialismo da América Latina.

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