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O “Barrar as contrarreformas do governo golpista de Temer” da chapa 1 no Andes: cretinismo eleitoral ou deslocamento político?

Nem bem começou a campanha eleitoral para eleições da nova direção do Andes, mas já observamos os efeitos positivos da disputa política democrática para os rumos do sindicato nacional. O material de campanha da chapa 1, Andes-SN Autônomo e de Luta, eleições 2018, coloca como um dos seus slogans “Barrar as contrarreformas do governo golpista de Temer”.

Bem, poderíamos criticar a chapa 1, por esse ou por aquele motivo, mas precisamos reconhecer que devido ao golpe de estado em 2016, e dos contínuos ataques contra os direitos sociais e democráticos promovidos pelo governo golpista Temer, que a imprensa capitalista chama de “ reformas”, é não somente importante, mas uma necessidade imperiosa mobilizar para derrotar as contrarreformas dos golpistas. E mais que isso, é fundamental apresentar de maneira clara que houve um golpe e quem está promovendo os ataques são os golpistas com objetivos golpistas.

Entretanto,  o que causou surpresa e até mesmo estranhamento é que a chapa 1 é a chapa da situação, ou seja formada pelos grupos que controlam a atual diretoria do Andes, que em todos os momentos da crise política, inclusive até ontem no recente congresso da entidade realizado em Salvador ( 22 a 27 de janeiro) sempre negou teimosamente que houve golpe de estado no pais em 2016, e mais que isso de maneira obstinada, ou melhor de maneira obtusa impediu que o Andes até mesmo nominasse o governo Temer de golpista.

A diretoria do Andes adotou a política sectária da CSP/PSTU de que “não houve golpe” e que o “PT era igual a direita”. Essa política catastrófica levou o Andes a completa paralisia diante dos golpistas. Dessa forma, a esquerda pequeno burguesa (PSTU, PSOL e PCB) que constituiu o condomínio que dirigiu o Andes nos últimos anos impediu que o sindicato integrasse a luta contra o golpe.

E mais que isso, como não existe neutralidade na política, muito menos em confrontos dessa envergadura e magnitude, a política ultraesquerdista da esquerda pequeno burguesa da diretoria do Andes representou uma política de colaboração de classe, uma espécie de frente única com a direita.

Assim, Independente das boas intenções da diretoria do Andes e da CSP, como se diz o caminho para o inferno é pavimentado somente de boas intenções, em nome do “ terceiro campo imaginário”  e da luta “ contra o governismo e contra a conciliação de classe do PT” , a política “ combativa” da diretoria do Andes levou o sindicato nacional a ficar completamente à reboque da direita golpista.

O máximo que a diretoria do Andes permitiu foi denominar o governo Temer como “ilegítimo”, sem evidentemente explicar que o caráter ilegítimo do governo Temer, ou seja apontar que a ilegitimidade decorria do fato que Temer chegou ao poder através de uma usurpação da legitimidade popular, através de um processo fraudulento do impeachment, na verdade um golpe arquitetado pela direita.

Ora, então como classificar o reconhecimento, ainda que tardio, da existência do golpe no Brasil no material de propaganda da chapa da situação?

A adoção da palavra de ordem “Barrar as contrarreformas do governo golpista de Temer”. … pelos apoiadores da chapa da esquerda pequeno burguesa(PSOL/PCB) indica uma manobra oportunista para apagar os rastos da capitulação a direita ao negar o golpe no Andes? Em termos substantivos, seria uma espécie de cretinismo eleitoral, visando confundir o panorama para conseguir de maneira desesperada votos no futuro pleito eleitoral?

Contudo, poderíamos também indicar, que muito mais que uma manobra oportunista, ao colocar a luta contra o golpe, ainda que consideremos como uma mera formalidade, estamos diante de um deslocamento político importante, por parte de setores que até ontem negavam de pé junto que havia golpe no Brasil.

O fato da chapa da situação finalmente mencionar o golpe as vésperas do processo eleitoral do Andes, após um longo período de negacionismo da diretoria do Andes significa que estamos diante de um mero cretinismo eleitoral ou de um deslocamento político genuíno?

Apesar de estamos tentados pela natureza oportunista dos grupos que compõem a diretoria, de indicar que a resposta a esta questão é o mero cretinismo eleitoral, precisamos mediar esta reflexão. Na verdade, o correto é apontar que as duas respostas não são absolutamente excludentes. Isso significa, que existe sim um calculo com base no processo eleitoral, e assim como negaram o golpe, agora a tendência de alguns setores da esquerda pequeno burguesa é negar que negaram o golpe. De qualquer forma, ao colocar ainda que timidamente a palavra golpe nas suas formulações, é importante assinalar que existe um processo de deslocamento político em curso.

Não se trata apenas do processo eleitoral do Andes, mas da evolução e desenvolvimento da crise política de conjunto. O golpe de estado no Brasil passa a ter contornos mais nítidos, ainda mais depois dos ataques contra os direitos sociais e democráticos desfechados pelo governo golpista, e dos desdobramentos da condenação do ex-presidente Lula. Assim, camadas e setores sociais populares, e em especial das camadas médias que não enxergaram ou não lutaram contra o golpe começam a perceber o alcance do golpe, que vai muito além do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República.

Neste contexto, os agrupamentos da esquerda pequeno burguesa vacilantes, que negaram o golpe ou se recusaram a lutar contra o golpe, estão cada vez mais pressionados para modificar suas posições imobilistas ou mesmo golpistas. Entretanto, os setores da esquerda mais francamente golpistas, como CST no PSOL e o PSTU, aprofundam ainda mais a política alucinada de apoio ao golpe.

A saída do PSTU da chapa situacionista no Andes, da crise de governabilidade da CSP (com aumento da oposição), a liquidação completa da Anel (organização estudantil do PSTU) são expressão da crise da política do esquerdismo que apoiou o golpe.  Por sua vez, a mudança, ainda que formal, das posições da chapa da diretoria do Andes em relação ao golpe, revela a importância da luta contra o golpe promovido no interior do movimento docente.

È importante assinalar, que adoção da palavra golpe é evidentemente insuficiente, mas de qualquer forma, representa um elemento que demostra que mesmo as forças políticas que negaram o golpe, agora estão sendo tencionadas a mudar sua política.

Esse processo é complexo, com idas e vindas na luta contra os golpistas, a confusão ainda impera, inclusive no interior das forças políticas que participam da luta contra o golpe. É importante nunca esquecer, que depois do impeachment, boa parte do PT simplesmente abdicou de qualquer iniciativa em defesa do mandato de Dilma Rousseff, chegando a acreditar que a solução seria “virar a pagina “ do golpe, através de um acordo por “ eleições diretas”, e ai eleger Lula.

A tendência ao aprofundamento do golpe, expresso na condenação de Lula  e no aumento da repressão contra os movimentos sociais, bem como na manutenção da ofensiva contra os direitos como a liquidação da previdência coloca com mais nitidez a necessidade de uma mobilização efetiva contra o golpe, não basta apenas o reconhecimento formal do golpe.

Disso decorre, que as eleições do Andes não podem ser vista como um mero processo eleitoral sindical, mas como uma oportunidade para intensificar a luta contra o golpe e em defesa da universidade pública. O movimento Renova Andes como pautou desde do inicio a luta contra o golpe no Andes, tem evidentemente a legitimidade para questionar porque a chapa 1, uma chapa de situação, somente agora coloca o “golpe” como um problema político relevante. Entretanto, ao colocar a luta contra o golpe como um elemento constitutivo da “nova” chapa, é preciso explorar esse elemento, promovendo um chamado constante para os candidatos e apoiadores da chapa 1 para mobilizações conjuntas contra o governo golpista.

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