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Documentário sobre Recy Taylor, mulher estuprada por racistas nos EUA na década de 40

Recy Taylor, uma mulher negra que vive nos EUA e na década de 40 foi brutalmente estuprada por seis brancos que nunca foram condenados.

Foi na tarde de 3 de setembro de 1944, Recy Taylor saiu da igreja e como num outro dia qualquer estava feliz, segundo seus amigos. Segundo matéria do El País, um vídeo de revelação de seu irmão Robert Corbitt, e o que conta o documentário The Rape of Recy Taylor (O Estupro de Recy Taylor), “Era a que mais se divertia de nós”.

Na história trágica, Taylor, que tinha 24 anos, voltava junto com um amigo e seu filho para casa, quando de repente  um carro se aproximou dos três. Estava com sete sujeitos, todos armados, todos brancos. Taylor, era negra num território extremamente racista, o Estado do Alabama. Os ocupantes do veículo, fascistas e racistas, veem na diferença de cor de pele um motivo suficiente para ameaçá-la e obrigá-la a subir. Levaram-na para um bosque próximo, despiram-na, e seis deles a estupraram.

Taylor, enquanto isso, chorava: “Tenho que ir para casa a ver o meu bebê”. Quando finalmente conseguiu sair dali, contou tudo ao seu marido. Entretanto, só seis anos atrás Taylor receberia algo semelhante a uma reparação: em 2011, o Estado do Alabama lhe pediu desculpas por “falhar na punição aos seus agressores”. O que ocorreu até então? É o que conta o documentário The Rape of Recy Taylor (O Estupro de Recy Taylor), de Nancy Buirsky, revelado na seção Horizontes do Festival de Veneza, em setembro de 2017 (quando este texto foi originalmente publicado).

Documentário sobre Recy Taylor, mulher estuprada que sofria racismo nos EUA na década de 40 1

O caso de Recy Taylor inspirou o discurso comovente de Oprah Winfrey no Globo de Ouro 2018, que lembrou sua luta por justiça ao ser homenageada. Com imagens de arquivo e entrevistas com vários protagonistas, o documentário narra uma história que reúne policiais mentirosos, racismo, os primórdios das lutas dos negros por seus direitos e o drama de uma família inteira. “Não nos viam como seres humanos, e sim como animais. E alguns ainda acreditam nisso”, diz no documentário um dos netos de Taylor.

O fato é que os agentes policiais foram rapidamente informados sobre o estupro, identificaram o carro e seu motorista, Hugo Wilson. E este delatou seus seis companheiros.

Mas a investigação terminou com uma multa de 250 dólares para Wilson. E ponto. Por isso a comunidade negra local recorreu à Associação Nacional pelos Avanços da Gente de Cor (NAACP). Esta mobilizou a própria Rosa Parks, a ativista negra que 10 anos depois mudaria a história ao se recusar a ceder seu assento de ônibus a um branco.

Junto a mesma, e apenas com uma das maiores mobilizações de associações e da imprensa negra até então, a denúncia chegou a um tribunal. Mas em quatro de outubro de 1944 um júri composto por homens brancos levou cinco minutos para decidir que não havia base para um processo. Nenhum dos supostos implicados tinha sido chamado a depor; nunca houve qualquer acareação. Um ano depois, porém, seria até pior. Pouco serviram também as campanhas dos coletivos negros, seus artigos de denúncia ou que um dos agressores, Joe Culpepper, mesmo confesso tudo durante a investigação que o governador do Alabama se viu obrigado a realizar por causa da pressão social.

Outros quatro implicados, como se escuta na película, confirmaram ter feito sexo com Taylor naquela noite, embora dissessem que era “só uma prostituta” e que teria se mostrado de acordo. Mas, quando o promotor pediu a abertura de um processo penal, um júri, novamente composto apenas por brancos, concluiu que não havia indícios suficientes. “Não acredito que os fatos tenham tido qualquer influência. A cor da pele foi tudo”, afirma o atual procurador-geral do Alabama no filme.

“O caso de Recy Taylor foi um ponto de inflexão na histórica cadeia de abusos contra mulheres negras, da escravidão até hoje. Ela falou, e motivou outras a falarem. E as organizações surgidas do seu caso talvez tenham acendido o pavio do começo do movimento pelos direitos civis”, diz Buirsky, a diretora do filme num email. Além de alterar o destino do seu país, Taylor modificou também o seu: insultada e ameaçada nas ruas, cansada de viver com medo, se mudou para a Flórida.

A apresentadora norte-americana Oprah Winfrey escolheu Recy Taylor como símbolo da urgência da luta contra o racismo e a violência contra mulheres para homenagear em seu discurso – convenhamos, nada mais preciso para o atual momento de aumento do conservadorismo, reacionarismo e fascismo mundial. “Recy Taylor morreu há dez dias, perto de seu aniversário de 98 anos. Como todos nós, ela viveu anos demais em uma cultura quebrada por homens brutalmente poderosos. E por tempo demais as mulheres não foram ouvidas ou não se acreditou nelas quando ousaram falar sua verdade contra o poder destes homens. Mas o tempo deles acabou. O tempo deles acabou. O tempo deles acabou”, discursou, sob aplausos. Recy Taylor morreu em 28 de dezembro de 2017.

Taylor, uma vez mais pode falar, como já havia falado na noite do estupro, mas agora para uma câmera e registrada para o mundo através da película. “Ela quer que as pessoas saibam o que lhe aconteceu, e acredita que tem que dizer a verdade”, escreve Buirsky. E acrescenta: “Fico impressionada com a sua coragem perante a injustiça. Ela nunca perdeu a fé. Nunca se envergonhou. Sabia que o que lhe fizeram foi errado”.

Os tribunais racistas do “país da liberdade e lar dos bravos”, os EUA, terra da hipocrisia genocida do capitalismo desenfreado, por sua vez não deixaram isso tão claro. O caso dela, e agora o filme, ficam como lição para a história do colonialismo racista que perdura pelo século XXI. Por isso, o documentário termina com uma dedicatória “às incontáveis mulheres cuja voz não foi ouvida”. Como a própria Recy Taylor, a quem as primeiras desculpas chegaram com 67 anos de atraso.

Nancy Buirsky

Nancy Buirsky, uma produtora e diretora conhecida por The Loving Story (2011), The Rape of Recy Taylor (2017) e Loving (2016) – Veja biografia completa -, é também a produtora de Loving, filme recente de Jeff Nichols sobre como a Justiça interferiu no casamento entre um branco e uma negra nos Estados Unidos, tentando separá-los.

Sua missão com o filme é sensibilizar o público para a questão: “A raça é a história da América e o racismo nosso defeito mais trágico. Em ambos os filmes, é crucial a supremacia branca, e os eventos recentes em Charlottesville demonstram suas consequências trágicas. Se há uma responsabilidade de contar essas histórias é justamente agora”, afirma. Mas, o que o cinema pode fazer? “Dizer a verdade. E colocá-la na tela para que as pessoas se envolvam nessas histórias, se conectem com seus protagonistas, sintam empatia e compartilhem a humanidade”.

Buirsky analisa que os Estados Unidos vivem um surto racista na era de Donald Trump, e por isso pede uma luta mais unida e convicta: “Esse extremismo está fazendo as pessoas sensatas se unirem e se mobilizarem mais. O racismo sempre esteve aí e cabe a nós confrontá-lo abertamente. Embora nosso filme fale de um episódio histórico específico, está claro que continua sendo terrivelmente relevante hoje em dia”.

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