Nas últimas semanas, a imprensa burguesa se dedicou a atacar a nova diretoria da EBC (Empresa Estatal de Comunicação). O motivo é que, agora, faz parte da linha editorial da instituição classificar o impeachment de Dilma como “golpe de Estado”.
Para o Partido da Imprensa Burguesa (PIG), eles é que devem ter o monopólio da opinião sobre os acontecimentos. Isso é tão marcante, que um deputado coxinha chegou a protocolar um pedido de impeachment contra o presidente Lula por este ter dito, na reunião de cúpula da CELAC, que Michel Temer era um golpista.
É proibido discordar. Não há outra análise possível: do contrário, todos são negacionistas históricos, pois Dilma cometeu as gravíssimas “pedaladas fiscais”. Tudo bem que FHC também as fez; e que todos os outros presidentes fizeram, bem como não exista nenhum artigo na Constituição que caracterize como crime tais atos. Mas não é golpe porque a Globo disse que não é — e ai de quem discordar!
O PIG, ao ter sua política desafiada em tamanha envergadura pelo presidente da República, bem como pela emissora estatal, entrou em desespero. Não à toa, a imprensa burguesa começou a disparar uma enxurrada de matérias atacando a Dilma, defendendo sua retirada do poder, criticando as empresas que tacharam o afastamento ilegal da presidenta como golpe e, até mesmo, partindo para cima do presidente Lula.
O Estado de S. Paulo, tradicional jornal da burguesia paulista, publicou um artigo: “impeachment de Dilma não foi golpe: entenda as pedaladas e o processo de destituição da petista”. Já o jornal O Globo publicou uma notícia sobre a “insistência” de Lula no tema do golpe causar incômodo até em aliados, nas palavras do veículo de comunicação. A Veja disse que Lula deu um “tiro no pé” ao reacender as discussões sobre o golpe. Enquanto isso, o PSDB foi à justiça pedir para que as postagens e para que as notícias da EBC com a palavra “golpe” fossem censuradas.
Tudo isso demonstra que a burguesia está em absoluto desespero com a mera menção da verdade: o impeachment como golpe. Nada que fuja do padrão apresentado no Jornal Nacional é aceito. Para o imperialismo, é preciso ser papagaio de pirata do William Bonner e do STF: acontece que Lula não se prestará a este papel.
Lula entra em conflito com esse setor profundamente reacionário. A “insistência” no tema do golpe, para utilizar a crítica feita pelo O Globo, é a prova de que o petista não se curvou à política do imperialismo e que tem em vista levar uma política independente.
Ao dizer que não foi golpe, o que a burguesia quer dizer é que não será golpe. Lula, ao insistir que se tratou de uma ruptura institucional, ainda que utilizando as chamadas “instituições democráticas” – ou seja, que utilizaram órgãos eleitos para rasgar a Constituição, deixando claro que as tais instituições democráticas são joguetes da burguesia –, deixa claro que não se deve confiar na burocracia estatal.
A causa da derrubada de um presidente da República nunca é um motivo jurídico. Para que um presidente seja derrubado por meio de um parlamento burguês, é preciso que a sua deposição seja a política da burguesia; ou que, em caso de uma divisão na burguesia, seja apoiado por ela em alguma medida. Do contrário, seria um completo contrassenso tentar explicar como uma instituição burguesa derrubou um presidente sem o apoio da classe social que o controla.
No caso da Dilma, o seu impeachment foi totalmente guiado pela burguesia imperialista – desde as etapas mais elementares, quando ainda se tratava de tirar o PT do poder, até o último momento. Tratou-se de um movimento geral da burguesia orquestrado desde a Casa Branca. Obviamente um golpe, cujos trabalhadores foram a maior vítima.
Ao reconhecer isso, Lula indica uma tendência de luta contra a nova ofensiva golpista que está por vir. Ao passo que, ao atacar o presidente por denunciar o golpe de 2016, o PIG já deixa claro quais são as suas intenções para com o novo governo.